Estado de Espírito
Em meio a multidão não sou ninguém... Multidão é povo, e quem de fato se importa com o povo neste país? Em meio ao Cosmo sou um milagre constante, que renova-se assim como o nascer da Aurora: Fênix!
Em meio a realidade, sou apenas a mãe de família, auto didata que um dia sonhou em ser Filósofa ou uma Psicóloga que encontraria a cura para todas estas doenças que nos rodeam...
Dizem que sou poetisa... Um amigo me considera ótima crônista... Dizem que tenho luz própria e tenho algum talento... Na verdade, não sou ninguém e sou todos e tudo... Ás vezes, consigo passar pela rua desapercebida... Muitas vezes, me enxergam e me olham como se eu fosse uma aberração de outro planeta. Me olho: talvez tenha papel higiênico preso ao sapato, talvez um botão esteja indiscretamente aberto, talvez tenha um caroço de arroz no canto da boca...
Houve quem disesse que sou 'uma coisa estranha'... E quando meus olhos passam por mim mesma e não encontram nada de errado que me tornaria uma anormalidade, me olho com os outros olhos... E sinto orgulho de mim.
O mundo está repleto de livros, sábios que afirmam sobre tudo, mestres de filosofias vãs e vazias... Minha vida é meu livro, a dor e os obstáculos que ultrapassei foram meus mestres e Deus, este ser que ninguém pode definir ao certo o que é, Este é o único sábio que conheci.
Hoje, olho pra trás pelos caminhos onde passei e sinto enorme orgulho de mim. Já não me importa o que pensem ou julguem sobre o que eu seja... Muitas vezes eu mesma não me compreendi... Quem afinal pode ter a petulância de acreditar que pode me compreender ou definir?
Eu vivi boa parte dos meus anos tentando suicídios frequêntes... Tentei me matar quando comecei a fumar... Tentei contra minha vida ingerindo precocemente remédios e líquidos quaisquer que encontrei na minha frente... Desejei morrer quando fui fraca e incapaz de encarar a própria realidade... Clamei pela Morte quando não tive um colo ou um ombro pra chorar, dependendo da piedade e dos sentimentos dos outros quando bastava-me amar a mim mesma e aceitar-me...Estava quase conseguindo morrer quando me encontrei chegando ao chão seco e infértil no fundo de um poço... Tentava me matar quando o alcool e as drogas apagavam de minha memória todas as feridas tão profundas que cabiam um dedo... Tentei violentamente contra a própria vida quando me expus ao perigo várias e várias vezes, desafiando a Vida...E eu morri várias vezes... Quando sempre algo me arremessava ao chão pedregoso, esfoliando com violência minha face sem expressão, e eu me erguia sem escora alguma.
Quem pode olhar pra trás e em meio a tantas besteiras feitas, sentir orgulho de si mesmo? Eu posso! Por todos os vales de sombra e morte eu passei... Já me sentei à mesa dos escarnecedores e certa vez a Morte me convidou pra uma dose... E sinto orgulho de mim mesma!
Eu não fugi de nada que a Vida trouxe! Encarei sem medo! Rastejei muitas vezes, tirei forças de onde não mais tinha e levantei! Mesmo quando não podia me levantar, eu me debatia no chão, mas reagia.
Tenho cicatrizes que o tempo não apaga, e cada uma delas conta uma história, não de derrota ou fracasso: de vitória! E do mesmo modo que sempre encarei meus desafios, hoje eu encaro a vida que tive e não sinto vergonha do que fui, muito menos do que me tornei!
Eu me debruço na janela com minha inseparável xícara de café e meu cigarro fedorento... Sinto o sol arder na minha pele branca e ouço os sons de vida e rotinas constantes pelo bairro à fora, essa bacia gigante onde nasci... Esse berço feito de mato que me acolheu... E meus lábios manifestam um sorriso sincero pra tudo o que está a volta. Olho para a fumaça que se dissipa, e não sou hipócrita: nunca fui perfeita, não será agora que serei, e quem de fato é? O céu é para aqueles que assumem a própria imperfeição!
Eu continuo com meu café, meu cigarro, minha arrogância e meu ostracismo anti social... Isso me torna imperfeita... Isso me torna relez mortal e portanto normal... Sou a 'coisa' mais chata e petulâmte que poderia conhecer, e gosto disto.
Meu futuro é incerto como foi a trinta anos atrás... E amo isso também! Pois eu tenho o Hoje onde me agarro com todas as minhas forças, e aproveito cada minuto intensamente, pois usufluo de minha liberdade mesmo confinada neste encarceramento que eu mesma criei.
Pois ser livre, não é fazer de tudo o que a cabeça e o corpo determina. É usufluir do poder e direito de escolha. Sou livre, quando posso enxergar o mundo inteiro, sem ultrapassar os batentes de minhas portas e janelas.
Olho para o sol que está radiante, e aceno pra ele. Quando os conhecidos me percebem branca feito a Lua, em dias de Sol intenso dizem: Hoje o Sol está bom, não é? Eu respondo que não gosto de estar exposta ao Sol... Acham estranho... Mas é porque não sabem que eu prefiro que ele entre no meu mundo, meu refúgio, observando sorridente seus raios e calor entrando por minhas portas e janelas por onde me recuso passar.
Hoje o mundo desaba a minha volta... Os problemas existem em maior quantidade que há anos atrás... Já passei por tanta coisa pior! Então, uma lágrima quente escorre, não sei se por algum calor intenso que se inicia dentro de mim, ou é o Sol, este meu amigo que me observa e me aquece agora...
Faço reverência ao Sol, a Vida e a Deus e agradeço pelos meus caminhos, pelo que vivi e tudo o que passei. Pois morri várias vezes, e várias vezes revivi. E hoje, embora o caos no mundo vá se formando sutilmente, aqueles caminhos que ficaram no passado me deram algo que nada neste mundo poderia me dar: sou feliz em meio a tudo isso!
No dia de minha partida, irei feliz pois, consegui o que queria: passei por este mundo, mas minha passagem não foi mera existência!