ERA UM HOMEM E SEU FILHO...
Hoje, aquele homem me tocou profundamente
quando de frente ao restaurante
carregava o filho no colo,
sei que todos os dias, os mendigos
povoam o mundo,
mas, não é disto que falo
é de algo absolutamente forte,
é um homem com o filho no colo,
sempre me pedem dinheiro
ou uma ajuda qualquer,
mas, hoje, simplesmente hoje,
um sentimento diferente me tocou,
não sei explicar,
mas meus olhos, se puseram a chorar,
a comida descia em minha garganta
dando um nó, em tão imensa tristeza,
tinha ele, um olhar angolano,
africano, sei lá...
e seu filho tremia no colo
deitando em seu ombro esquerdo
a fome, a tristeza e o desespero,
Meu Deus! este homem mexeu comigo,
vi nele um olhar triste, fugitivo,
mais que miserável, parecia ser aquele homem,
tentando mostrar com seus grandes e brancos dentes
um meio sorriso, impreciso, inoscente...
tenho certeza, de que algo poderia ou queria me dizer,
mas, não disse,
parecia sem forças, pobre homem!
alguém chegou primeiro que eu,
e levou à mesa um prato de comida
e para a minha mais forte tristeza,
percebi que o menino, mal conseguia se levantar
sua cabeça, dos ombros de seu pai,
perdi a estrutura, fiquei abalada,
sei que todos os dias, verei isto, enquanto
viver...
mas, nunca senti tão profundamente
uma cena tocar minha alma,
hoje, chorei como criança,
lembrei da minha infância, nem tão bela
nem tão farta,
quando servi meu prato
procurei uma mesa escondida,
onde não poderia ver, a tristeza
almoçar comigo,
minhas mãos ficaram trêmulas, garfo e faca
não conseguia segurar,
percebi detalhe por detalhe,
da comida, que enchia meu prato,
e, não consegui, sequer, saciar minha fome,
então, me levantei,
chorando, e, ao me deparar outra vez
com aquele homem e seu pequeno menino,
vi, que algo, havia mudado, em minha vida,
seus olhos silenciosos e lacrimejantes
por um instante, olhavam o prato que lhes serviam
o talher caiu, então, a pressa para matar sua fome
o impediu de buscar outro talher,
bateu no garfo, tirou a poeira, e esganadamente
encheu sua boca e a de seu filho,
parada, na porta do Restaurante,
fiquei a observá-lo, e, por um instante
lembrei dos filhos que deixei em casa,
o menino, tinha um corpo raquítico
que não conseguia segurar sua cabeça,
parecia aqueles lá da somália
pernas magras, barriga inchada, e uma enorme cabeça
seus olhos, grandes arregalados
expressavam de maneira clara, a fome que o detinha
que o impedia de continuar a jornada,
li, todos os dias da vida daquele homem,
dentro dos seus olhos, senti revelações
de uma estória, triste e inapagável,
era um olhar parado, que parecia
meditar, em cada prato, que via o cliente encher
Ah, meu Deus,
resolvi, sair dali, e me dirigir ao caixa
para pagar a conta, da comida que nem consegui
engolir,
e quando voltei, ele já tinha ido embora
com sua criança, que, por este dia
saiu dali, satisfeita,
então, pensei em quantos amanhãs ainda viveria
e quantos sols nasceria em sua miserável vida,
hoje, simplesmente hoje,
percebi, que ainda existem pessoas
solidárias,
que ainda, este mundo de pedintes
que cobrem as fileiras da miséria
e engrossam as marquizes dos descamisados,
podem contar com seu próximo,
e, fico aqui, sem respostas,
sem palavras, apenas noticiando
mais um momento, que chorei por alguém.