A Angústia da Ilusão
Ás vezes tento chorar, são tentativas frustradas, é inútil tentar, é inútil tentar colocar toda a angústia que sinto para fora, angústia esta oriunda do meu profundo sentimento de descontentamento em relação a tudo isso, a toda essa realidade que me choca, que me faz perecer nessa ilusão que eu crio, a de que um dia tudo isso vai mudar, a de que um dia os meus sonhos, os meus idéias, poderão se concretizar. Mas chego a pensar, que não há nada que eu possa fazer, que não há nada o que se fazer, que todas as tentativas são vãs, de maneira que só resta em mim um vazio, este que me entristece, que me faz desabar dentro de mim mesmo, e me afogar nessa completa escuridão que faz parte de mim, que não me deixa ver, que não me deixa perceber, o que tudo isso vem mesmo a ser, o que tudo isso é, o que tudo isso foi. Olho em minha volta, tentando perceber, não sei o que, talvez alguma reação, ou alguma ação, porém só percebo um descontentamento recalcado, como se todos estivessem dizendo para si mesmos “eu estou pagando pelo meu pecado”, acho que se trata do pecado de existir, já que a nossa existência só causa destruição, essa que é a causa da ilusão, de nossas ilusões, de nossos sonhos, que nascem do passado, de uma realidade que um dia existiu, que nos faz querer voltar, que nos enche de esperanças, que nos faz querer resgatar o que tudo isso fora um dia, porém, não o – podemos, nos restando apenas essa possibilidade mórbida, de se iludir, de continuar a criar ilusões, com cada vez mais e mais destruições. Destrói-se o que se é, para que com o arrependimento inerente a essa destruição, possamos criar a nossa ilusão. A televisão é uma ilusão, o rádio é uma ilusão, o aparelho de som é uma ilusão, o aparelho de DVD é uma ilusão, as drogas são uma ilusão, e todas nascem da destruição, pois para se criar todas elas, é necessário destruir, é necessário se desfazer da natureza, o real que destruímos para nos iludir.
Itaci Silva Camelo