SONHO DE POETA

Buscar o sono até que a vontade passe e acordar com a lembrança de ter se escondido de uma mentira, eis ai um privilégio de um ser errante, que se aprofunda demais no amor que só tem ouvidos, porque amar os outros é inerente, pelos outros, é forma poética de um sofrimento inexistente. A construção sincera de uma poesia é absolutamente algo de encanto, nascido na alma que vaga na preguiça, uma preguiça construtiva, como a do homem que trabalha apenas na solidão do seu pensamento. Aceitar ser escravo de sua própria sensibilidade, envolve por vezes a dúvida, ser fiel a personagem na trama que herdou em um mundo egoísta, mas, se tal condição não lhe traz 
a perfeição desejada, a comprovar as freqüentes mentiras escancaradamen-
te expostas em alguns versos, mostra por outro lado um sentimento de amor indiscutível no desenrolar de uma emoção no exato instante em que acontece. É bom se deitar na rede sentindo a brisa fresca no rosto e imaginar o sonho de uma vida no vôo de uma gaivota solitária. Recriar sua própria existência no paralelo imaginário de uma bela criança dormindo e o choro convulsivo do sentimento de perda, a tal preguiça anteriormente dita. Não existe uma condição pré-estabelecida para viver poesia, somente sentir e encontrar vida na mais desapercebida das criaturas. É muito difícil não parecer presunçoso diante dessa exposição, porém prefiro dizer que é apenas a constatação empírica do amor de quem escreve sem a menor necessidade de demonstrar talento ou superioridade. Não admira serem inacreditavelmente simples os mais belos poemas. Dito isso, abraço minha preguiça e sonho ser poeta, de resto prefiro o silêncio a uma discussão sem sentido, pois seja qual for a idéia, passa necessariamente pelo amor a vida.

Jose Carlos Cavalcante
Enviado por Jose Carlos Cavalcante em 24/05/2006
Reeditado em 24/05/2006
Código do texto: T162338