A plenitude do ser livre?
Ao que me parece, o comportamento humano condicionado pelo ímpeto da liberdade plena, cujo objetivo consiste na realização das vontades próprias, de modo a desconsiderar os resultados que tal liberdade possa eventualmente ocasionar, é diretamente conflitante com o comportamento guiado pelas emoções, as quais levam a atitudes que vão de encontro à razão plena (propiciadora da liberdade plena) e que, portanto, colocam-nos inseridos numa prisão de atitudes inapropriadas para a condução de uma vida digna. A emoção não necessariamente se alinha à vontade, visto que o paradoxo nesta dualidade reside justamente na relação entre dois binômios: vontade – liberdade e emoção – prisão. A razão, por sua vez, quando percorre simultaneamente estes dois binômios, apresenta a possibilidade de se moldar a ambos, a fim de que haja uma justificativa plausível para o evento que se deu em determinado momento. Entretanto, a plenitude de uma ação racional que visa a encontrar a liberdade em sua essência exige, por sua vez, o domínio sistematizado da capacidade racional do indivíduo, ou seja, o exercício reflexivo (e que não envolve instâncias emotivas) responderá pelo desenvolvimento e consolidação do ser livre em sua mais definida plenitude.
A capacidade de domínio sobre si, no entanto, demanda algo além do autoconhecimento, uma vez que o ato de conhecer a si mesmo não necessariamente pressupõe domínio de todas as capacidades e limitações que prescrevem o indivíduo desde sua gênese. Embora permeado em simplicidade (todavia conquistado em complexidade) o domínio de si próprio exige auto-reflexão. O ato de refletir é um mecanismo essencialmente simples, mas que quando exercitado esporadicamente, tende a tornar-se complexo na medida em que os eventos diários que subscrevem nossas vidas, a partir de nossas experiências, vão se acumulando. Tendemos, portanto, a apresentar certa inclinação para a negligência com nossa necessária disciplina comportamental para com nós mesmos e, assim, o autoconhecimento reflexivo torna-se cada vez mais defasado em função dos eventos externos que nos “preocupam” além do aceitável, fazendo com que deixemos de buscar a liberdade plena, cujo alicerce se fundamenta no exercício da auto-reflexão. Nossas capacidades e limitações foram condicionadas pelo ambiente que convivemos em determinado período de nossas vidas, e, embora sejamos mais ou menos suscetíveis a aceitar ou refutar determinados fatos que efetivamente se deram ao longo de nossa existência, por meio da plenitude lógica de considerar nossa vida holisticamente, podemos reduzir todos os vícios que nossas vidas se acostumaram a se acomodar a apenas um apoio para a conquista da liberdade plena.