"O Fotógrafo"

Vestes de malandro, que dançavam num corpo agateado. Seu cheiro não aspirei, mas o imaginei como um ópio: alucinógeno. Eu o via através de suas lentes: uma safadeza nata que florescia pelo canto da boca. Eu o desejava desaforadamente.

Tornei-me uma leoa em plena caça. Farejava-o e no seu rastro ia, impulsionada pelo único desejo de observá-lo fotografando.

Um jeans que enfeitiçava meus olhos e deslocava minha atenção. Uma camisa entreaberta que despertava minha libido – profundamente ensandecida. Era assim a minha presa. Era assim o meu desejo.

Tornei-me perceptível. Retribuiu-me com um olhar cheio de folguedos, e desapareceu pelo galpão com sua lente, com sua malandragem, com sua volúpia de homem que se fez instalar em meus mais maliciosos pensamentos.

Dele? Nada sei. Tão pouco sobre mim, sabe. Mas deixou-me perpetuar em suas lentes. Mirou-me nos olhos, e através dele, entreguei-me àquele delicioso desconhecido: o fotógrafo.