A dor serena
Meu pai faleceu recentemente e conheci pela primeira vez, intensamente, um sentimento constante de tristeza. Não qualquer tristeza, uma constante, corriqueira, de toda hora, e procurei caracterizá-la como angústia.Fiquei pensando nas inúmeras pessoas no Mundo que a sentem sem estabelecer, necessariamente, conexão nenhuma. A sentem simplesmente por sentí-la e regularmente sofrem com isto.
Não é dor de amor, forte e cega, esta tristeza não tem dor certa. É uma fisgada na alma que imobiliza. Não tem ferida, mas fica aberta.
Queria muito falar com outras pessoas que a sentem, porque, creio, que me emancipei dela, às vezes , teimosa, volta ao meu corpo físico, mas meu semblante, então terno, a manda embora.
Quem são os muitos que sentem isto? Uma solidão incontida, serena e duradoura. O mundo tem cores brilhantes. Não é cinza.
Digo dor serena, porque é tranquila. Alguns a conservam por toda uma vida.
O que poderíamos fazer para desfazer este elo? Quantos poderiam decerto não mais sentí-la?
Somos todos poetas, escritores, músicos.... A arte nos regojiza , é nossa morada preferida, nosso primeiro amor. Esta dor é cega, desnorteia a mão que carrega , e retira a força da vida.
Vida é descoberta. Se travamos uma batalha interna, a vitória não emancipa.
Quero dizer que estou aqui.
Não para dar conselhos
mas para aprender
Não para explicar o que ainda não sei
mas para dizer o que aprendi.