Arrebatamento

Olho em minha volta, estou entre quatro paredes, porém, há algo de errado, pois não posso ver o mundo lá fora, esse que não possui paredes. Me sinto tão limitado, me sinto preso, quando sei que lá fora, além dessas paredes que me cercam, há relva, o cantar dos pássaros, o barulho das águas que brotam da terra e por ela estão a correr, o vento que viaja livremente, árvores e frutos, enfim, há a natureza, tão bela, tão perfeita. Mas só o que vejo em minha volta é um mundo fictício, um mundo inventado, que me faz imaginar, porém não o que não existe, mas sim, o que um dia existiu, mas que não posso mais ver, pois estou preso entre essas quatro paredes que me sufocam, que me aprisionam. Quero tanto me libertar, e essa ânsia por liberdade me angustia. Está escuro, não vejo saída, a única luz que vislumbro, é a luz do sol que entre pela minha imaginação, e que me enchem de ansiedade, me fazem andar nesse lugar escuro a tatear na procura de uma saída. Não ouço sons, nem mesmo ouço os meus gritos, estou isolado, estou só, completamente só. Mas pela minha imaginação entra o som do vento que bate nas folhas das árvores, e é tão singelo, tão bonito. Sinto que não vou mais agüentar. Um calor toma conta do meu corpo, uma energia descomunal me enche por completo, minhas pernas começam a tremer, meu coração bate acelerado, meus pulmões com avidez tenta captar oxigênio. Começo a correr, corro sem parar, sem medo de bater nas paredes que me cercam. Corro com mais força, perco por completo qualquer noção de espaço, não existe mais tempo, só a eternidade. Continuo a correr... Vejo um corpo, ele está desacordado, parece morto, me aproximo, percebo que continua a respirar, ainda está um pouco escuro, me aproximo mais tentando olhar o seu rosto, é o meu. É o meu rosto! Uma luz imensa invade ao meu redor, não vejo mais nada, mas logo passa, tudo é belo. Estou livre! Livre! Liberto!

Itaci Silva Camelo