Brisinha 8

Um amor está despertando dentro do meu peito. É um amor repentino, embora seja um antigo amor. Indo além, penso que é o único amor de verdade que já senti por alguém. Diferente do despertar de todas as coisas existentes (lento e preguiçoso), esse amor despertou de um salto, como que acometido por um pesadelo horrendo. Despertou arfando alto e suando frio, esse amor.

Do barulho que este amor fez, despertaram, também, os medos que eu conseguira fazer dormir à custo. Todos eles. E eu, que com tanto esmero os fizera adormecer, um por um, agora sou abatido por eles, novamente. Que lástima!

Esse amor, que em outros tempo me colocava na rua, deitado no chão, cabeça na mochila, blusa de frio, a olhar o céu, aspirar o perfume dos louros cabelos, entrelaçar meus dedos com outros dedos, agora me p~e na janela, na mesa, no sofá, no carro, de pernas encolhidas, a abraçar meus joelhos, ouvir as antigas canções que embalaram as noites de outros tempos, a pensar em como fui deixar esse amor adormecer.

Afinal, de que adianta permitir que algo adormeça, sendo que tudo o que adormece, desperta? e mais, desperta de forças renovadas. Melhor teria sido matar esse amor, quando houve chance. Mas pareceu-me atitude demasiadamente covarde matar um amor assim, durante o sono. Ainda mais esse, tão linda, de face resplandecente enquanto dormia.

O fato é que agora esse amor despertou e se põe em minha frente agora, exigindo explicações do por quê o deixei dormir até tão tarde. A questão é:como hei de explicar a esse amor antigo que lhe falta uma parte? E, não obstante, não faço ideia se essa parte, um dia, existiu. Como explicarei que lhe falta uma parte que não tinha? Talvez essa parte até exista, mas deve estar adormecida em um outro coração, que pode ter sido mais cruel do que eu e matado a pobre metade enquanto dormia. Como culpar esse alguém por fazer algo que, um dia, eu mesmo quis fazer?

A solução é colocar esse amor antigo para dormir, novamente. Mas é provável que, desta vez, ele me vença...

William G. Sampaio [12/5/09]

William G Gardel
Enviado por William G Gardel em 13/05/2009
Reeditado em 16/05/2009
Código do texto: T1592346
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