“Sexta básica”
Ouvi essa pérola num programa de humor duvidoso e fiquei pensando no que viria a ser a tal sexta básica. Algumas coisas me vieram à cabeça...
Uma balada até as tantas, cheia de pessoas buscando a felicidade a qualquer preço, escancarando sorrisos e fazendo algazarra de vozes, feito pássaros; uma boate lotada, e a caça desenfreada por um par ou uma identidade; gays, héteros, prostitutas adornadas com suas luzes neon, os punks que ostentam uma imagem pouco pacífica e que pregam a paz; os novos personagens ‘emos’ com suas lágrimas embutidas; a jovem safra de adolescentes que se aventura na homossexualidade...
Também me veio à idéia a imagem do executivo e sua gravata afrouxada que não é suficiente para que esqueça seus números, relatórios e estatísticas, nem o carro de luxo recém-adquirido em 24 prestações... e a solidão do seu uísque no lobby de um hotel.
A cerveja no boteco do Chico – a mais gelada! – desce a primeira, a segunda, a terceira já vem amarrando e remete ao balanço geral da repartição: a bronca do chefe, a dor-de-cotovelo insana do colega promovido, a gostosa que não te dá bola; e é chegar em casa e a patroa ainda te esfola!
O que pode ser mais básico do que uma sexta? Uma pizza com vinho na cantina do centro ou o teatro alternativo? Um show internacional numa casa noturna chiquíssima, cujos ingressos, como se diz na minha terra, são de “arrancar o couro”! Fazer um programa light e ir comer sushi na Liberdade, sentar no tatami, com os pés descalços e entornar sakê na roupa. Ou voltar cedo pra fazer o supermercado, aproveitar a promoção de tevês e escolher uma pro quarto, e comer qualquer lixo no fastfood. Cinema com pipoca e manteiga, coca-cola, lágrimas que rolam no final do clichê. Ou a fila na locadora – leve 4 e pague 3 – e o edredon no sofá-cama da sala...
A sexta básica do programa de humor era só pra ser um trocadilho infame. Mas se a gente for pensar, não é que é tudo básico mesmo?