Saudade e Existência
As pessoas vêm ao mundo para serem abraçadas e ninadas, e de fato são, pois vêm ao mundo na qualidade de bebês, sedentos de carinho, de afeição, por isso que os bebês são tão fofinhos, e nos encantam facilmente, desejosos de carinho, de um afago. Os bebês crescem para poderem brincar, e é exatamente por isso que aprendem a andar, para que possam correr, pular, saltar, se movimentar demasiadamente. Tornam-se crianças, ávidas por respirar, por isso são tão agitadas, o que as levam a respirar de modo frenético. Brincam de tudo, e ainda inventam mais brincadeiras, pois têm todo o tempo do mundo e o mundo inteiro, são espíritos livres, em sua forma mais pura, mais próxima do real e mais bela. Daí as crianças crescem, e sabem qual o motivo dessa decisão tão arriscada? As crianças crescem para poderem sentir saudades, saudades de seu tempo de criança, saudade da liberdade, saudade da falta de responsabilidade, saudade de correr, pular, brincar. E vão crescendo porque a saudade é até certo ponto bom, quando nos faz sentir o quanto fomos felizes, e ás vezes ela nos aproxima tanto desse sentimento de felicidade, que até parece que voltamos a ser crianças, porém com o tempo, a saudade passa a ser nociva, machuca, e então continuamos a crescer, tentando fugir dessa saudade. Sabem porque os adolescentes anseiam tanto por um amor? Saudade do tempo em que eram bebês, do tempo em que recebiam cuidados, proteção, carinho, amor. Saudade do tempo em que recebiam aquele abraço apertado que parecia infinito, e que os faziam sorrir de uma forma tão verdadeira que levava a todos em volta independentemente da idade, a nem que seja esboçarem um sorriso nos lábios. Nos tornamos adultos depois de quase morrermos de saudade, essa que é capaz de gerar tanto sofrimento. Por isso que os adultos são tão carrancudos, pois são pessoas que sofreram demais, que possuem uma saudade reprimida, e de modo a sublimá-la, acabam tendo filhos, de modo que possam ver a si mesmos, pelo menos o que um dia foram, em seus bebês, em suas crianças, e é como se eles revivessem a sua infância, a luz que antes brilhava em seus olhos volta a brilhar, o sorriso que antes pendia de seus lábios pode outra vez ser visto, a felicidade então volta, mas não por muito tempo, pois logo os filhos crescem, e então, se continua não mais a crescer, mas a envelhecer. Já repararam o quanto algumas pessoas idosas parecem crianças? Pois é... Saudade... Voltar a receber os cuidados, os carinhos, os mimos de outrora.
Itaci Silva Camelo