Confissão de uma amargura
O frio sempre me acompanhou, parecia prever desde o principio que minha vida seria totalmente solitária fria e vazia. Que o destino que criei pra mim, foi uma cova bem funda onde enterrei meu coração e hoje ele está de decompondo e dilacerado sente as raízes do desespero e do desconforto entranhar em seus labirintos, sem ter como escapar, ele fica quieto esperando a triste hora onde não haverá mais vestígios de vida.
Em minha frente muitas folhas voavam pelo chão, outras tantas caiam das árvores sem saber o que lhes esperavam, iriam se tornar pó. Iriam se decompor lentamente, assim como o corpo de meu amado e meu coração dentro de mim, assim como as minhas manhãs frias com a ausência dele. Assim como minha vida tomava aquele rumo, de solidão e infelicidade incalculável.
O passado ficou pra traz, mas tão intenso no presente e tão presente estará no futuro, que me desanima pensar em viver, mas como não tenho poder nem coragem de mudar os rumos de minha história, fico aqui, esperando a hora, a hora tão demorada vir me puxar para dentro dos estranhos túneos do infinito tão desconhecidos quanto minha estadia aqui.
Parece que vivo um sonho tormentado pelo vento e pela infinita dor. Pelos jardins de rosas vermelhas cor de sangue, cheias de espinhos ferindo minha desconhecida alegria, e regadas com minhas lágrimas ficam cada vez mais fortes e vivas, com cheiro de morte. Me fazendo perder o sono ao cair da madrugada. E me deixando sem ânimo todos os dias.
Como reverter esta história? Se já nasceu o sol várias vezes desde o dia antes daquele dia que marcou minha memória humana e espiritual, que não se apagará jamais. Da história que não começou e teve fim, dos lamentos, dos sorrisos destruídos, dos rabiscos escondidos, do soar da voz, da cor e do brilho dos olhos, do adeus não dito. Das formas e da nuance dos corpos estendidos sobre o chão de uma sala, amarrotados um pela dor o outro pela morte.
Extinto a possibilidade de alegrar-se o sobrevivente, eu. Criei uma forma de viver, sem saber o que faria com a insuportável amargura, da cruel insolvência da vida e dor. Do impossível resgate de amor, de prazer e de viver. Vivendo somente por estar nesta terra de olhos abertos. Quase sem vida, por engolir os alimentos, só porque sinto fraqueza, por estar cada dia mais pálida e sem forças. Me estranho quando me olho no espelho, não parece ser eu, acabou-se toda minha razão, e minha emoção.
Só me restaram o medo, a fadiga e a covardia. O cansaço me pega muitas vezes e me rendo a ele, me distorço nos contornos de meus desenhos atormentados pela alma rabiscados em meus modelos. E ainda vejo aplausos com euforia de platéias cheias, de fleches de elogios e de reverencias. O mundo não me entende e nem se quer procuram saber meus motivos. Só me usa, e nem se sequer enxugam minhas lágrimas.