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Estava digitando uma data qualquer de 2007 (ano corrente) quando me dei conta que meu erro de digitação me mostrou que naquela data não existirei mais. Fazemos muita coisa esquecendo que não somos fisicamente eternos e as coisas que podem ser eternas muitas vezes são esquecidas.
Daqui a 200 anos meus sucessores saberão pouca ou nenhuma coisa ao meu respeito, assim como não sei nada de meus parentes de 1807.
Me senti pequeno, me senti quase que um nada. Nossa vida e existência só têm importância para nós mesmos e nossos parentes e amigos mais próximos.
Tanta coisa nos preocupa ao longo da vida e são muitas dessas coisas que na verdade não importam em nada, absolutamente nada.
Um sapato desse ou daquele modelo, um piso ou revestimento de parede desse, assim ou assado, aquela roupa linda ou essa simples, esse ou aquele carro ou casa, ou, ou, ou.....
Ao longo da vida nos preocupamos com tanta futilidade e nem nos damos conta. Preocupamos-nos tanto com as aparências, com a moda, com a impressão que causamos a outrem.
Realmente sábias são as palavras do Rei Salomão, que no auge de sua fortuna e riqueza reconheceu que tudo nessa vida é vaidade.
Talvez alguém em 1807 tenha errado a data ao escrever e se projetou para 2007, e com isso tomou ciência de sua insignificância.
Não me lembro de ninguém que tenha vivido em 1807, assim como ninguém em 2207 se lembrará de minha existência.
Se em 1807 aquele homem ou aquela mulher era elegante, tinha belos sapatos ou uma casa com acabamento sofisticado, só lhe serviu para satisfazer a vaidade da época
Quantas coisas nos criam preocupações em decorrência do querer, do consumismo e tudo isso apenas nos desgasta e satisfaz uma necessidade fútil e momentânea, pois no momento seguinte já queremos algo mais isso ou mais aquilo.
Nós seres humanos somos os mais idiotas dos seres vivos. Temos todo o básico, mas nunca basta. As indústrias de todos os seguimentos estão diariamente criando produtos novos, com cores ou aparências diferentes nos levando a querer comprar e comprar. A mídia coloca tudo isso de tal forma que cria uma necessidade inexistente para aquilo.
Em 2207 serei apenas uma porção de poeira misturada à imensidão do planeta. Das coisas que comprei e consumi nada restará, a não ser uma construção que permaneça de pé e muito provavelmente ninguém se lembrará quem construiu e como viveu.
Somente as ações e atitudes boas poderão ser perpetuadas. Apenas as grandes idéias, descobertas e invenções serão lembradas. Os atos em benefício da coletividade talvez nem sejam reconhecidos no momento que são praticados, mas no futuro, quem sabe daqui a 200 anos sejam lembrados e reconhecidos e nosso nome e imagem sejam homenageados. Ai sim podemos dizer que tivemos uma existência digna.
Vejo que nosso maior bem, nossa maior conquista e patrimônio é o tempo. Nada é mais importante e merece mais atenção que o tempo.
Sabemos que nossas ações de hoje podem gerar muita desgraça ou muita paz para as gerações futuras. Exemplo disso é o aquecimento global, que é resultante do descaso que tivemos para com a natureza.
Nunca parei para pensar que um erro de digitação pudesse me levar a meditar sobre minha existência, fazendo com que eu revisse meus valores.
Hoje o único bem real que tenho o único bem verdadeiro não é palpável, nada que possa pegar, sentir, ver ou ouvir é tão sólido e real como o tempo que me resta.
E como não sei, assim como ninguém sabe o tempo que temos a melhor coisa a fazer e valorizar e aproveitar cada segundo, dando o valor que aquele momento merece.
Se meu maior bem é o tempo é justamente ele que é o meu maior desperdício, pois assim como eu, creio que ninguém sabe realmente aproveitar e valorizar o tempo, de forma que seja usado para nos eternizar.
Ao longo da vida todos deveríamos nos centrar num objetivo maior, muito maior que uma linda casa, um lindo carro, ou até mesmo a vidinha familiar exemplar.
Se há 200 anos atrás as pessoas tivessem feito uma pausa e mudado a maneira de ver a vida o mundo hoje seria totalmente diferente, nada seria como é hoje. Nem seria possível imaginar como seria o mundo hoje, tamanha a mudança que os atos podem gerar.
Quem poderia imaginar que querendo escrever 2007, por um descuido, escrevendo 2207 fosse possível entender o que um Rei poderia querer dizer com seus salmos e provérbios.