Brisa 21
São noites como esta que me fazem pensar no que aconteceria se eu jogasse tudo pro alto e corresse atrás de um sonho. Provavelmente eu terminaria pobre e perdido no mundo, mas na imaginação parece que vale a pena tentar. Pôr tudo a perder. Jogar pro alto e dizer “Dane-se”.
Diz o melhor dos livros, que foi inspirado pelo maior dos autores, que se buscarmos o Reino em primeiro lugar, as outras coisas nos serão acrescentadas. É isso, geralmente, que me dá um pouco mais de vontade de jogar tudo pro alto e correr atrás dos meus sonhos, deixando, é claro, o Reino em primeiro lugar. São noites como esta, de sexta-feira, quentes como o dia, solitárias como as garrafas estilhaçadas nas esquinas, que me fazem pensar. Nenhum pensamento útil, é claro. E me ponho a escrever essas coisa sem muito sentido, mas que são aplaudidas depois, e deixam meu ego um pouco melhor.
São noites exatamente iguais a esta que me fazem querer ligar pra você, e ouvir você dizer “Alô?” e repetir, cada vez mais irritada, até eu não agüentar e dizer alguma coisa, ou desligar, sem mais nem menos. São noites como esta que me dão vontade de estar com você, talvez na praça, talvez na praia, talvez no campo, deitado ao seu lado, olhando no céu as nuvens que se afastam com o vento quente das noites de calor. Ah, essas noites! Essas noites não me deixam nem um pouco em paz...
Cada vez que respiro esse ar quente e pesado das noites como esta, sinto vontade de correr, correr e correr, correr sem parar, sem saber pra onde, sem saber pra quê, somente para sentir o vento no rosto, e praguejar a cada comentário do tipo “Que maluco!”, ouvido de relance, em meio ao som do vento ressoando nos ouvidos. Correr, correr e correr ainda mais, até me encontrar num lugar razoável, longe de tudo e todos, longe dos meus pensamentos, e dessas noites como esta que me fazem querer gritar pela janela.
Ah, essas noites! Essas noites que me fazem querer o impensável. Essas noites que põem em minha mente os pensamentos mais sombrios, malucos e inusitados que já pude pensar. Ah, são noites como esta que me fazem querer ter uma rede e as habilidades com violão, coisas que não possuo. Ah, essas noites que me fazem sofrer por não ter uma varanda, nem uma casa em Angra, nem tempo pra ir pra Angra, nem saber onde, exatamente, fica Angra. Mas o que importa, afinal? Sei que Angra é um ótimo lugar para passar as noites como esta e já me basta esta sabedoria para querer estar lá.
Ah, são noites como esta que me deixam sem vontade de dormir, mas sem nenhuma outra coisa pra fazer, sem ânimo pra fazer nenhuma outra coisa. Ah, é em noites como esta que me dá uma vontade louca de tomar banho de chuva com você, beijar sua boca ensopada, abraçar teu corpo ensopado junto de meu corpo ensopado e nos tornarmos um só corpo ensopado.
Ah, são noites como esta que me fazem sentir como um idiota por escrever essas coisas. Noites como esta que eu oro para que passem logo. Ah, essas noites como esta.
William Guilherme Sampaio [20/2/09]