Paciência virtude ou pecado?
Hoje, caminhando a beira mar em Camburi, passei a refletir sobre a "Paciência" e lembrei-me que minha avó sempre diz que esta é uma virtude por ser uma qualidade moral particular, uma disposição habitual e firme para fazer o bem, a qual no fim de uma vida virtuosa, tornar-se a imagem de Deus.
Todavia indaguei-me: Porque as pessoas sonham, porque as pessoas lutam e resistem tantas adversidades, enquanto outras que já possuem tudo, não as vêem? Porque esperar tanto para que as coisas acorram na busca por uma felicidade padrão material, e olvidar da juventude e da vontade de viver, da maravilha em se curtir a vida que é tão efêmera e frágil diante dos riscos criados pelo próprio homem ao desenvolvimento desta? Por quê? ...
Se a “Paciência”, do latim patientia, que significa tem-se pela paz, se opõe à “Ira”, pecado capital que representa o estado emocional desordenado, a raiva excessiva. A Ira, seria então um mal em si mesma, pois tira a paz do indivíduo, leva à impaciência, ao furor, à violência, ao ódio e ao assassinato. Ao passo que, a Serenidade, a Paz, o Perdão, que é ter Resistência (resiliência) às influências externas e moderação da própria vontade, é, também, conseguir manter um controle emocional equilibrado, sem perder a calma, ao longo do tempo. Consiste basicamente de Tolerância a erros ou fatos indesejados. É a capacidade de suportar incômodos e dificuldades de toda ordem, de qualquer hora ou em qualquer lugar, ou seja, é ser paciente.
Ocorre que, apesar de toda esta explicação, lembro-me bem do meu avô que passou a vida na pratica da diligência, mas a curtiu a cada momento como se fosse o último, pois o que ele mais gostava era de tomar a famosa cervejinha estilo “cú de foca” (estupidamente gelada) no quiosque a beira mar em Camburi, o que não podia por ser cardíaco e safenado, mas como bem expressava o meu saudoso Vô, a vida é muito curta para se deixar de fazer o que se gosta ou o que se quer, desde que não prejudique o próximo, já que a Morte não é paciente, pelo contrário é moldada na Ira.
Razão pelo qual, acredito nas palavras do filósofo Vilém Flusser, em “A História do Diabo”, em que considera que os 7 pecados capitais são signatários de uma visão comprometida, traduzidos através do uso de termos arcaicos e tendenciosos pela Igreja em sua propaganda antidiabólica, o que este substitui por uma visão corrente por termos neutros e modernos, na qual pondera ser a IRA a recusa em aceitar as limitações impostas à vontade humana, portanto como sendo o fator pela busca da dignidade, enquanto a PACIÊNCIA ou PREGUIÇA seria uma impressão de "moleza", que transmite mais a idéia de recolhimento e imobilidade voluntária do que a indolência inata. Mas sem dúvida, seria o arcano mais adequado para caracterizar a "não-ação", a negligência, a apatia, a ausência de amor e também a tristeza que assinala a acedia. A Preguiça, ou Paciência, pode ser combatida pela virtude da Diligência, zelo e presteza. Para Flusser, a meu ver quase num rasgo de bom humor, temos o "pecado" da Filosofia, estágio avançado causado pela meditação.
Assim, não sejas tão paciente ou filosófico nesta vida, busque, sonhe, mas faça as coisas para que não se arrependa depois, uma vez que a Morte como já disse é efêmera e colérica, mas que esta o esquece se você faz o que gosta com amor, zelo e presteza, ao ponto desta e da doença, que é o seu beijo, nunca venham seduzi-lo.