Peregrinos por honra e virtude

Nicotina diária

O jornal não chegou,

O jornaleiro anunciou:

“Morreu o patrão”

Primeira página,

Comoção, homenagens, louvação.

E nos morros, nas vielas, favelas.

Nos óbitos sociais.

Nas vidas que não valem caracteres,

Nem interessam ao leitor.

Nos sonhos que não são decifrados,

Nem tampouco alimentados.

Que fadados ao descaso,

Não se sentem elucidar.

Privaram minha imaginação,

Vendaram meus olhos, calaram minha voz.

Mataram sem me matar.

Forças garantidas constitucionais

Treinados para reprimir.

Ame a pátria, suas exigências.

Era o que ouvia,

O que ainda escuto.

Que muros pichados foram pintados,

E o branco que cobria,

Era a anestesia.

A prova da sua covardia.

Outro dia o tempo foi pesado

As auroras fugiram do lugar.

E os loucos ficaram atormentados

Peregrinos por honra e virtude.

Não olhavam a imagem

Que a cidade se acostumou.

A paisagem de prédios aglutinados,

Que omite o que o céu mostrou.

Não esqueça que sua vida é sua

Que a aparência não resume essência.

Que ideias não se fazem caladas

Viajando para me desligar.

Caminhando até por dentro do mar.