Brisa 16
Se vivermos buscando um amor, viveremos tristes. Não me recordo onde ou quando ouvi esta frase. Mas ela vem me incomodando muito, há algumas horas. As palavras se cruzam, descruzam, se soltam, embaralham, mas a frase continua sem sentido para mim.
Eu vivi (e vivo) procurando um amor. É verdade que tive sim minhas desilusões, meus momentos de tristeza, minhas horas de rosto vermelho, de abstinência, de vícios... E falando assim chego quase a acreditar que esta frase é verdadeira. Foram bem ruins os momentos que passei esperando alguém me dar a mão e dizer que me amava, independente de onde estivesse. Se fosse fazer uma longa reflexão, eu chegaria à conclusão de que ainda espero alguém me dar a mão. (que Deus me perdoe por isso; Ele sabe do que eu falo). Mas, a cada noite angustiada de espera, a cada lágrima que rompia em meus olhos e queimava minha face, a cada vez que meu coração batia dolorido, eu via o amanhecer cada vez mais próximo. E isso me motivava a continuar procurando.
Eu vivi (e vivo) procurando um amor e amando essa busca interminável, então sei do que falo. A busca pelo amor traz, sim, dores. Mas o amargo da dor vai se transformando em doce, a cada vez que a esperança de encontrar o que se procura enche seu peito. As lágrimas que rolavam de meus olhos, nos momentos em que falhei e fraquejei em minha interminável busca, vinham terminar seu rumo umedecendo meus lábios e me fazendo sorrir, pois eu percebia que de minhas dores eu tirava o meu alívio. E, a cada vez que eu me encontrava atirado ao chão, com os cabelos pesados, os olhos doloridos de lágrimas, as olheiras fundas e escuras, podia ver o sol nascer e ofuscar meus olhos. E o pensamento que me nascia era: “O sol brilha quando eu mais estou triste, procurando uma luz; encontrarei meu amor quando mais estiver desesperado e empenhado em buscá-lo”; então eu me alegrava.
Eu vivi (e vivo) procurando um amor, e até hoje ainda não encontrei um que me correspondesse. Mas depois de algum tempo o procurando, chego à conclusão de que eu nunca fui triste; eu já fiquei e já estive triste, mas ser e estar são coisas completamente distintas. Percebo que sou, afinal, feliz. Pois, por viver buscando um amor, aprendi a transformar minhas dores em esperanças. Logo, perdoe-me o autor de tal frase, mas eu gostaria de a refazer: “Se vivermos procurando um amor, viveremos aprendendo mais uma maneira de nos livramos da dor e transformá-la em esperança”.
William Guilherme Sampaio [6/7/08 00h50min]