Brisa 14

Quando me perco em pensamentos, às vezes imagino você daqui a alguns anos, olhando pro passado. Eu vou estar lá, nas memórias do seu passado. Você começará a pensar com sensatez, como fazemos ao pensar nas coisas que passaram, e verá que eu realmente me importava com você. Eu ainda estarei na sua vida, convivendo contigo, mas talvez seja tarde para tentarmos começar algo ao qual você havia dado um fim. Então o que te restará serão lembranças e só. Você estará beijando os lábios de quem eu desconheço, mas não será feliz, pois não serão os meus lábios.

Então, pensando por outro lado, você talvez queria voltar atrás e eu permita isso. Não sei. Existem dezenas de maneiras de se imaginar essa estória. Uma mais diferente, complicada, inusitada e bela do que a outra. E a verdade se resume nisso: não importa quantos futuros eu crie mentalmente; o presente está aqui, na realidade, ferindo-me até os ossos e não importa o que eu imagine pra me distrair, eu vou sentir os açoites, as dores e as angústias do presente.

Diante da realidade do presente a única coisa que me consola é a esperança por dias melhores. Meu instinto natural me faz gerar essa esperança dentro de mim. A esperança de que, no final, tudo vai ficar bem; do jeito que eu espero que vai ser; de um dos mil jeitos que eu imagino todos os dias.

A única certeza que tenho, em meio a esse caos de pensamentos, essas dores, essas aflições, é que a cada pecado que cometo, a cada erro que cometo, a cada vez que eu tropeço, afasto-me um pouco mais de ti. E isso me machuca, pois eu, sendo homem, erro todos os dias, todos os dias tropeço e não há dia em que me levante pela manhã e me deite à noite sem que tenha pecado uma só vez no dia. Diante dessa certeza, posso tirar uma triste conclusão, sem sombra de dúvida: a cada dia que passa eu te perco um pouco mais. E, a cada dia que te perco um pouco mais, fico um pouco mais desanimado, com menos vontade de viver os dias, ficando, assim, mais vulnerável aos erros e aos pecados, perdendo-te ainda mais. É como um círculo vicioso. É tremendamente doloroso. Mas não posso fazer nada para mudar o fim (pelo menos não me sinto capaz disso), então devo me conformar em viver com essa verdade: a cada dia vou te perdendo mais, até extinguir você completamente da minha vida.

Você é a única que pode mudar tudo isso. Mas já tomaste tua decisão, não posso clamar por ti. Estou perdido. Perdido...

William Guilherme Sampaio [15/5/08]

William G Gardel
Enviado por William G Gardel em 16/04/2009
Código do texto: T1543358
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