TEORICA-MENTE
–– Isso nele é loucura, amigos.
–– É nada.
–– É.
–– Não é...
–– Pode até não ter nada de doido,
mas seu médico atestou amnésia, enquanto ele gerava as coisas.
É, ao sexto dia de trabalho
o velhinho já demonstrava fadiga;
fora-lhe comprometido o atributo da onisciência,
posto que nos ditames do “manual de vida” ––publicado milênios depois ––
demonstra esquecimento de que engendrara uma criatura frágil,
de quem não podia exigir extremada “pureza”,
e a quem, por isso, jamais poderia propor
o fogo eterno como punição pelos “escorregões” e “quedas”.
Ele tinha ou não consciência da fragilidade
de sua “obra prima” quando concedeu o tal do livre arbítrio?
Se tinha, é irracional a ideia da pena eterna, sob qualquer hipótese.
Se não, por isso mesmo, permanece inconcebível essa ideia,
e segue-se que o médico dele tinha razão...
Ou correto seria procurarmos os verdadeiros insanos,
os que construímos um Deus louco, perverso?...
–– Calma. Não se chateiem comigo;
quem diz essa "asneira" é meu coração.
Ele não pode sair da linha um dedinho só?!
Quem sabe, um dia mude...
Ou então piore...