Provérbios Sábios de um Jovem Lunático

Todo bem deriva de um mal.

O sincero acaba por entender que mente sempre. A mentira não é apenas falar contra o seu saber, mas também falar contra o seu não-saber.

Amor a mulher!? Se não é compaixão por um deus sofredor, então é instinto pelo animal escondido na mulher.

Aqueles que até agora mais amaram o ser humano foram os que mais fizeram o ser humano sofrer: exigiram dele o impossível, como todos os que amam.

Nós fazemos também acordados o que fazemos no sonho: sempre inventamos e ficcionalizamos_ e esquecemos em seguida que eles são inventados e ficcionalizados.

Amamos a Vida não porque vivemos, mas porque estamos habituados a querer continuar a viver.

Tu acreditas em “tua vida após a morte”? Então precisas aprender a estar morto durante toda a vida.

Nossas falhas são nossos melhores professores: mas sempre se é ingrato com os melhores professores.

Uma coisa muito esclarecida deixa de nos interessar. Toma pois cuidado para tu mesmo não te tornares esclarecido demais para ti!

O casamento, a espécie mais enganosa e hipócrita de relação sexual, pode estar certo para aqueles que não são capazes nem de amor e nem de amizade.

Vocês querem me dizer que procuram “a verdade”? Na realidade, vocês procuram um chefe e um faraó a fim de ser comandados.

Em torno do herói tudo se torna tragédia. Em torno do semi-deus tudo se torna uma sátira.

A má consciência é o imposto que a invenção da boa consciência impõe aos humanos.

Nossos suicidas difamam o suicídio, e não o contrário.

Não se ama bastante o seu próprio conhecimento quando se passa a comunicá-lo.

O amor a uma só pessoa é uma barbárie, exercida as custas de todas as demais e um prejuízo para o conhecimento. Deverias, porém, amar a muitas coisas e seres: daí o amor iria te obrigar à justiça em relação a cada uma, e, portanto, a conhecer cada uma. O amor a muitas pessoas é o caminho para o conhecimento.

Os humanos se dividem entre aqueles que são capazes de uma ação “terrível”, e aqueles que não são.

Eu já vi alguma verdade ser vitoriosa, mas sempre através do apoio benevolente de cem erros.

O amor à Vida é quase o contrário do amor à longa-vida. Todo amor pensa no instante e na eternidade, mas jamais na “extensão”.

Querer amar revela cansaço e saturação de si mesmo. Mas querer ser amado expressa desejo de si mesmo, paixão por si mesmo. Quem ama presenteia-se adiante; já aquele que quer ser amado gostaria de receber a si mesmo como presente.

Tu dizes: “eu me amo”, “eu me desprezo”, “eu me lamento”... Meu amigo e renegador de deus, eu não quero questionar o teu “eu”, mas esse teu “me” é tão fictício e inventado quanto qualquer deus o é_ tu precisas renegá-lo também.

Assim pensam os animais: “Não há nenhum ser humano, pois nunca houve um primeiro ser humano”.

Seres humanos que são desconfiados em relação a si mesmos querem ser ainda mais amados do que amar, para uma vez, ao menos por um momento, poderem acreditar em si mesmos.

No afeto se revela não o ser humano, mas o seu afeto.

Corre um falso dito: “quem não salva a si mesmo, como pode ele salvar os outros?” se tenho a chave para as tuas cadeias, por que tua fechadura e a minha teriam de ser a mesma?

Sangue e medo ao fundo fundam igrejas, doutrinas, mentiras e controle de mentes.

A igreja não é mais do que um tipo de Estado mentindo desde a base.

O animal masculino é cruel com o que ele ama_ não por maldade, e sim porque ele sente demais a si mesmo, não tendo mais sentimentos para o sentimento alheio.

“Eu” é apenas uma hipótese auxiliar com a finalidade de tornar o mundo pensável.

Toda ação mais elevada é uma ruptura múltipla da lei dos costumes.

O sangue é uma péssima testemunha para qualquer tipo de verdade: o sangue envenena a doutrina, de maneira que se torne ódio e cegueira.

A ciência mostra o rio, mas não a meta: mas ela fornece os pressupostos aos quais a nova meta precisa corresponder.

Gilliard Alves
Enviado por Gilliard Alves em 05/04/2009
Código do texto: T1523877
Copyright © 2009. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.