TEXTOS
Ao cair da noite o silêncio se faz profundo aqui.
É possível ouvir ao fundo o ruído dos bichos nas matas.
Vaga-lumes, mariposas e cogumelos dançam ao ritmo do vento.
E nós nos embalamos com a cantiga mais pura que vem do riacho
que corre pelas entranhas da mata.
As folhas que nascem perto das margens
sorriem quase que num êxtase.
São as carícias que o rio provoca; está apenas de passagem,
mas deixa marcas profundas,
sulcos que jamais serão apagados da existência
porque ficamos bestificados com tal beleza.
E sempre falamos dessa beleza em conversas de botequim,
tornando-a eterna, indestrutível.
***
Nasce o dia e junto com ele as movimentações nas casas.
Pessoas esquentando o leite e o pão.
Uns embebedados de preguiça não se movem,
só sorriem ao sentir um cheiro bom de café.
Conversas ao pé da escada, risadas na varanda,
um casal em cima da pedra.
São fotografias, pequenos fragmentos de cada um,
retratos de várias vidas juntas em uma só.
Há os que preferem ficar sozinhos observando algo perdido no silêncio,
sem repartir essa vivência.
Depois vem o passeio na praia.
Provocações sensuais nas guerras de areia,
insinuações debaixo d’água...
Um casal andando a beira mar e um cachorro saltitando atrás do dono.
No fim da tarde, banhos no rio,
o frio é superado pelo prazer de experimentar
Algo inesquecível, inigualável.
Ao cair da noite o silêncio se faz profundo aqui.
(Quebrado apenas pelo canto dos amantes.)