Não sinto falta de sexo. Sinto falta de fazer amor. Da antecipação da entrega no olhar. A aproximação e o semicerrar do olhar. O toque sublime que faz arrepiar o corpo todo. A união urgente das bocas. A saliva a cair. Um mergulho adentro em busca de qualquer coisa, um calor, um abrigo, um alimento. Descolam-se. Um grito contido. Um suspiro ofegante não sei com que ruidos. O cabelo vivo para a frente e para trás, chicoteando o rosto e as costas. O abandono como um boneco de pano. Paro e aguento tudo para o ver cair de novo.Lentamente. Desfeito sobre o meu corpo. A sua pele sobre a minha e depois ele regressa , por milagre, daquela asfixia, olha-me nos olhos com um intenso pedido, um medo, e recomeça a deixar cair saliva na minha boca. A minha boca que é a dele, que aspira e engole, se mistura libertando um calor intenso. Todo ele cabe em mim. Suave terno, ondulando largando um som aflito como quem chama por alguma coisa que tem que chegar de muito longe e tarda. A sua boca cola-se á minha, como uma ventosa de um polvo e depois entra nela toda. Sufocando. Com dificuldade soluça o ar que respira. Tão fragil, o corpo delicado que pede misericordia e sussurra por mais violência, cobre-se de um véu úmido. Um orvalho salgado e escorregadio que lhe permite escapar. Os sexos confudem-se. Esbatem-se. Alimentam-se um ao outro com sofreguidão e depois desmaiam exaustos ao mesmo tempo.

O cabelo cobre-lhe o rosto. Espreito de perto como quem conta as penas de uma ave. Procuro a palavra. Não digo nada. E nada acabou e nada começa.

L'etranger
Absolutamente real, fora da órbita terrestre é essa paixão
http://www.youtube.com/watch?v=0UlAJZIUSfU
Comme femme



Uma semana maravilhosa para todos


ysabella
Enviado por ysabella em 30/03/2009
Reeditado em 30/03/2009
Código do texto: T1513515
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