Continuar fingindo que não há nada?
Olhos vermelhos distantes, pés sujos que rumam para lugar algum, roupas de tons bege, cinza ou marrom. Mal cheiro, manchas e feridas pelo rosto. Uma praça, um beco sem saída. Muros e prédios repletos de pixações. Mato alto, pouca luz, um círculo. Lá embaixo, muita fumaça, cachimbos, viagens. Descendo um pouco, bares. Prédios sujos, feios e ensebados, carros bons estacionados. Polícia longe, algumas vezes perto, colchões sujos e fétidos retirados. Caminhões pipas tentam lavar a sujeira, mas ela volta, se instala, se acomoda. Lá de cima gritos, música alta viagens. Tarde, madrugada, sindíco e conselho não fazem nada. Perturbação, alteração. Discussão, carro, rua. Gestos de não prossiga, prossigo na contramão.Crianças correndo e duas mulheres algemadas no chão. Dou marcha ré com o número em mãos. Cansei, farei reclamação. Mês passado assassinato. Tiro na cabeça, mesmo prédio, desisto. Não sabia da degradação que corroia. Não me preocupava, a sujeira de longe não vale nada. Mas está perto, cada vez mais, ir para onde?
Você liga e a viatura é deslocada, para perto da sujeira. Eles olham e não fazem nada. Não, neles não dá pra confiar, mas está difícil agüentar. Cada esquina uma loucura, uma pedra uma fissura. Morte, tiros, fogo, dilúvio, qual a solução para pés sujos, gritos e madrugada ?
Continuar fingindo que não há nada?