Da moral para a ética
Queridos amigos e companheiros de guerrilha poética
O poeta desloca a palavra e o sentido do lugar comum, e cria um contexto singular e estranho para ela. Nesse sentido, o poeta destroi a língua em sua gramática e senso comum.
Como a língua é generosa, ela sobrevive, e temos a poesia.
Assim, o poeta é um ser de lugares não comuns.
E talvez, esteja entre os seres mais lúcidos do universo.
Como vivemos em um mundo bastante enlouquecido, sair do enlouquecimento geral cause um falso estranhamento nos outros, pois, o enlouquecimento do mundo passou a ser lugar comum, no fim de um milênio e início de outro.
Vivemos em um mundo de corpos sequestrados pelos valores de uma exigência estética corporal mentirosa e desvirtuada, de almas sequestradas pelas mensagens de sucesso, poder material, eterna juventude, em um mundo que bane o sofrimento, a doença, a morte.
Acredito que o artista é um ser nas bordas, na periferia, deslocado do centro. O que permite que ele possa perseguir profundamente seu centro, que seja intensamente integrado em seu corpo, sua alma, seus ideias, sua poética, seu trabalho.
Não sei quem falou: "o artista é a antena da raça". Ele está a frente em idéias, em possibilidade de sentir e pensar, por isso sua responsabilidade nessa vida. O que nem sempre é simples, aliás, de simples nada tem.
Artistas, somos seres vibráteis e conscientes, e pagamos um preço em dor e gozo, nas bordas estamos sem garantias, vivemos nossa precariedade humana. Perseguimos o lugar de seres éticos, e lutamos para não ser aprisionados pela moral.
A diferença entre homens e mulheres regidos pela ética:
a moral é uma ordem que vem de fora, e enquanto tal, é obedecida pelo homem ou pela mulher da moral. Princípios morais oferecem garantias. Mesmo que garantias sejam sempre ilusórias, nos agarramos a elas para não conviver com a precariedade de ser humano.
A ética passa por um filtro interior, e nos conta que a vida não oferece garantias. No entanto, quando abandonamos as garantias, as referências surgem para nós: as referências vêm de sentimentos, sensações, do que experimentamos com nossa vivências.
O trabalho de se deslocar do lugar da moral para o da ética, é porém, um trabalho de instante a instante. Somos capturados e nos resgatamos, num trabalho sem fim.
Grande beijo,
Eliane