Lembranças
Esta manhã estava chovendo, as gostas escorriam pela vidraça, fazendo um barulho suave ao bater no vidro, aquelas gotas palpitavam transparentes, suaves feito um toque, uma carícia silenciosa; o cheiro de terra molhada invadiu a sala, as flores do jardim pareciam agradecer com seu perfume delicado.
Eu olhei pela janela e me vi criança, correndo molhada na chuva, chutando as poças, rolando na lama, sorrindo abertamente, sentindo a água fria correr pelo meu corpo, enquanto minha mãe me chamava da porta da cozinha, dizendo que eu podia me gripar, como se aquele momento pudesse ser impedido por alguma coisa! Na verdade não podia, eu não ligava pra gripe alguma, nem pra chuva gelada; meus pés descalços pelo chão, as roupas sujas de barro, os cabelos encharcados.
Como eu sinto saudades de ser criança, de olhar pra vida com aquele meigo encanto, com aquele jeito benigno de quem realmente é inocente. Eu ainda procuro olhar com inocência, mas o máximo que consigo, é olhar, procurando acreditar que não sei de tudo, enquanto a criança olha como quem tem sede, como quem está pronto para beber até a última gota.
Me lembro que tinha tantos sonhos... eu acreditava em papai Noel, em fada do dente, em príncipe encantado e em outras tantas coisas que não acredito mais. Me lembro que as coisas pareciam mais bonitas e mais fáceis de serem resolvidas, da mesma forma que tudo era mais simples e tinha mais frescor.
Esta manhã estava chovendo, as gostas escorriam pela vidraça... e essa chuva abençoada me trouxe caras recordações...