SOLETRANDO O SILÊNCIO

Pelas mudanças radicais em minha vida

No íntimo procuro o vocabulário

Para decifrar em qualquer idioma

A ciranda dos contratempos

Impostos pelos oponentes

Ferretes que passei como sina

A saúde foi marcada por pontos

Muitos vinténs foram usados pelos abusados

O grande amor transpassou para outra dimensão

Os demais amores passaram como desamores

Meus livros não foram publicados

Sugaram minha energia por alguns trocados

Minha inteligência foi criticada por matutos

Os bons modos não foram considerados

Nas roupas as estrias não foram passadas

Na ribalta obtive falsos aplausos

Os pés se deslocaram e ficaram inchados

Os votos de felicidade tiveram alto custo

Em qualquer linguagem

Já calejado pelos hipócritas sorrisos

No grito, no silêncio ou nas letras

Agora com nada me assusto

Em cada novo silêncio tento soletrar as pancadas

Preservando minha linhagem

Não me escondo

Encaro as vicissitudes como aprendizado

E os inimigos com os dentes aparecendo

Por maior que seja o rombo

Ultrapasso como um ser educado

As más palavras sempre apetecendo

Mas saí andando do meu tombo

Agora entendo que todo silêncio

Soletrava que eu estava vencendo