A Imagem Do Que Sou
O medo tornou-se uma constate.
Chegar a esse ponto de minha vida era um destino inevitável, afinal, no declínio de meus trinta anos constatei que jamais me foi permitido um horizonte, que hoje tenho a triste certeza de quão patética é minha existência. Em minha mochila carrego sonhos desfeitos, magoas, mentiras e um universo próprio de más e dolorosas recordações. Não há um dia se quer que não anseie a morte, não por ser o fim, mas porque assim retornarei para casa. Não existe um lar para mim aqui, é um fato, e minha sufocante vida é uma prisão sem muros com castigos incessantes, com palavras duras, sem esperança ou ajuda, cheio de abomináveis acontecimentos que perpetuam no âmago de meu coração enchendo-o de veneno até alcançar o que pode ser chamado de espírito. Sou um homem triste, doente, velho e sozinho. Não me reconheço mais. Aprendi a me odiar, aprendi a odiar Deus e todos os seus filhos. Aprendi a sub existir dentro do circulo infernal de minha existência com desespero, angustia e com profunda melancolia, sem alguma esperança.
E quando você perde a esperança, quando você percebe que nada que faça irá mudar o seu cruel destino, quando descobre que jamais teve socorro ou auxílio tudo muda em sua mente, até mesmo as cores.
Mas também me recordo de quando ainda existia a solidão e a tristeza já reinavam em meu ser e uma estranha certeza de que jamais teria alguém, por mais que deseja-se. Com isso também havia a verdade difícil de aceitar, a verdade de que jamais seria pai.
Os anos passaram e após inúmeros acontecimentos dolorosos, perdas insuportáveis e de tanto sofrimento esmagador a estranha certeza, a inaceitável profecia pessoal, revelou-se verdadeira.