EU QUERO CULTURA (II)

Continua muito difícil sobreviver em tempos de crise; sobreviver com cultura – na mesma relação – continua mais difícil ainda! Convidaram-me para uma festa universitária; mas recusei. Pinga com sabor, cerveja quente, música de péssima qualidade e pessoas rodando feito peões e sem uma direção definida já não fazem meu estilo. Prefiro deixar de lado esses convites de grego e abstrair-me desse mundo. Contudo, é engraçado pensar que serão essas pessoas que amanhã ou depois – depois da festa, depois do fogo, depois das pingas com sabor e cervejas quentes – que estarão recebendo um diploma, aspirando um emprego e – por sorte ou QI – comandando empresas, setores e pessoas. Lembrar-se-ão das festas e dos porres ou escondê-los-ão quando fecharem as portas da universidade?

Hoje, amanhã e até se formarem... estão ali para se divertirem; para se divertirem com a política do pão e circo universitário. A política de que nem tudo é “estudar”, de que é preciso interagir com os calouros, com a cerveja quente por um real, a pinga com sabor por cinqüenta centavos, a música chiada e a bandinha desafinada. Estão ali para interagirem porque – na sua grande maioria – perderam o juízo de valores e o senso cultural. Estão ali porque já não conseguem mais ler um bom livro, assistir um bom filme, ouvir uma boa música ou expressar um bom padrão de qualidade. Aliás, na regra de que para tudo há uma exceção, existem poucos e bons que ainda pensam nisso, que ainda discutem idéias, cultura e, por conseguinte, conseguem manter em suas vidas um bom padrão de qualidade. Todavia, infelizmente, a grande maioria já não sabe distinguir o que é bom e o que realmente vale a pena.

Como já disse em outra passagem... viver não é simplesmente respirar. Viver requer arte, requer sonhos, requer vontades e determinação. Viver é muito mais que submeter-se ao que lhe apresentam, ao que – muitas vezes – lhe impõe ou ao modismo que o mundo prega. Viver é necessariamente conseguir criar idéias, desenvolver conceitos, argumentar sobre temas. Viver é ter personalidade e livre arbítrio para saber escolher – concretamente – o que faz bem e o que é prejudicial.

Não quero – particularmente – ouvir a musica chiada ou a bandinha desafinada, não quero cerveja quente e nem pinga de sabor. No mesmo contexto, não quero conversas sem sentido, bem como sobreviver da cultura do lixo e dos enlatados. Eu quero cultura e, necessariamente, preciso de cultura! Eu quero boas músicas, bons textos, boas idéias, boas conversas e estar do lado de pessoas realmente que valham a pena. Não preciso de festas e nem dessa cultura universitária do lixo.

Não quero viver como muitos de vocês vivem e sobrevivem. Não quero sobreviver como muitos amigos e amigas que nem conseguem dizer como sobrevivem. Não quero ter na minha cabeça o lixo que muitos de vocês insistem em carregar como melodia decorada mas sem qualquer sentido! Eu quero personalidade, eu quero criatividade, eu quero qualidade e quero usar meu livre arbítrio – acima de tudo – para conseguir sempre a melhor opção de cultura. Sim... Eu quero cultura!