TECNOLOGIA X HUMANIDADE
Nos últimos anos a ciência se desenvolveu vertiginosamente. Em cinqüenta anos saímos da máquina mecânica de calcular, primeira fase do computador atual, passamos pelas válvulas, que esquentavam as máquinas, e chegamos a essa maravilha de poucos milímetros eletrônicos chamada micro-chip.
Sem dúvida, a humanidade evoluiu. Estamos revestidos de tecnologia, pelo que parecemos mentalmente mais evoluídos, mas até que ponto deixamos de fazer as “barbarices” que os antepassados, que não viviam nesse mundo intelectualizado da informática, faziam? Os velhos ímpetos selvagens foram suprimidos pelo novo homem que pensamos ser – um ser humano mais consciente de seu papel como membro de um todo que requer harmonia, compreensão, tolerância e respeito? Ou somos contidos por leis que restringem as atitudes selvagens e irracionais latentes, sendo que na ausência de qualquer uma dessas leis voltaríamos ao antigo barbarismo, correndo como o suíno que volta à lama, então tomaríamos posse arbitrariamente do que é dos outros, saqueando, matando, linxando, vingando, dando lições, etc., como se vê quando as pessoas aplaudem atuações intoleráveis de agentes revestidos de lei contra esse ou aquele sujeito que pode ou não ser delinqüente?
Infelizmente a história contemporânea mostra que, a despeito do grande avanço tecnológico e aparente evolução intelectual, muitos seres humanos continuam enclausurados num arcaico sistema filosófico que prega superioridade de alguns sobre os outros, determinando méritos e deméritos para negros, judeus, pobres, índios, alemães, estrangeiros, etc. Prova disso é o holocausto nazista que dista de nós pouco mais de cinqüenta anos, justificado por ideais eugênicos, que mergulharam o mundo em sua própria imundícia – esse pensamento apodrecido que vem desde antigos grandes pensadores da elite grega, passando pelos ideais de dominação do patriciado latino de Roma, transmitindo-se através das filosofias do Sacro Império e chegando à mente recalcada de Hitler, um artista plástico fracassado.
No livro Os meninos da Guerra o autor usa os judeus pelo fato de terem sofrido em todos os desajustes da sociedade humana que foram registrados na história, mas poderia falar dos milhões de alemães, poloneses, austríacos, ucranianos, soviéticos, japoneses, ingleses, franceses, italianos, americanos, etc., que morreram de graça nessa catástrofe, onde alguns dirigentes do mundo demonstraram sua incapacidade em bem governar, bem como deram provas de possuírem grande potencial e inclinação para cumprir a filosofia de Malthus, laborando pela extinção, ao invés de investir em produção a fim de manter o equilíbrio entre alimentação e população.
Que coisas como essa e outras tantas guerras insanas sirvam de lição para que jamais a humanidade se esqueça que os sonhos, o romantismo, a religião, os ideais, os medos, a insegurança, a carência afetiva, a mãe, o pai, os filhos, os parentes, os amigos, etc., dos outro são tão importantes para eles com são os nossos para nós e, se achamos que merecemos viver bem, com dignidade e sermos felizes, eles também acham e querem, tendo, sobretudo o direito de assim viver.
Wilson Amaral
Estudante de História da Unisinos. Autor de Os Meninos da Guerra, Editora Laboratório do Livro, 2004, e Os sonhos não conhecem obstáculos, Editora Laboratório do livro, 2005. E-mail: wilsonrsamaral@yahoo.com.br