Saudades
Estou com saudades da minha vida, tenho saudades da vida que vivi, dos dias que vivi há dias, meses atrás. Saudade do que fazia e não faço mais, amigos que não mais encontro, que ficaram para trás, da porta fechada, da conversa solitária em dias de lua cheia, do despertar do dia da vida de compromissos descompromissados, da tabela no alto que com um salto pode ser alcançada, da bola que passamos pros manos de quadra que nos ajudam a ultrapassar as barreiras e vencer a jogada.
Tenho saudade dos meus passeios acompanhada de mim mesma, sentir o vento no rosto, o frio nos pés molhados, andar sem medo, sem destino e sem hora pra voltar, disso sim tenho saudades, pois a maior saudades são das coisas que eu nunca fiz.
Saudades de fingir o que eu não sou e quem não sou; saudades de falar bobagens, rir, brincar à vontade, me preocupar com o que eu não ainda não tenho que fazer, nem se o tempo vai se esgotar, disso sei que a saudade será eterna, pois me parece que esse tempo de saudade nunca vai acabar.
Sinto saudades das visitas quase que diárias aos meus velhos amigos, hoje quase que anuais, saudades das latinhas, das pirraças, dos abraços, saudades das brincadeiras, do abrigo que é só meu, do silêncio que sem cobranças me ouve, da minha vida sem maiores dificuldades. Já não sei até quando enfrentar esses monstros, que me lembram de tudo que me passa e que ainda me falta fazer, como se fosse pouco querer o que ainda não se pode ter, como se não bastasse carregar o peso de se ter saudades...