Tempos Pós-Modernos (6)

Tenho um pé atrás com essa literatura de “auto-ajuda”. Aliás, auto-ajuda seria se a pessoa mesmo se ajudasse, sem a ajuda dos livros de auto-ajuda. (rs)

Em geral, esses textos são mal elaborados e mal escritos, além de quase sempre ostentarem uns títulos chamativos, supostamente cultos e espirituosos como “Homens são de Marte, Mulheres são de Vênus”, “Torne-se seu próprio Chefe”, e assim por diante. Há um que se propõe a explicar porque “os homens fazem sexo e as mulheres, amor”, o que talvez tenha dado o mote para aquela canção da Rita Lee - um pastiche melódico dos Beatles que faz associações poéticas totalmente forçadas. Vejam a letra:

"Amor e Sexo

Amor é divino

Sexo é animal

Amor é bossa nova

Sexo é carnaval

Amor é para sempre

Sexo também

Sexo é do bom...

Amor é do bem...

Amor sem sexo,

É amizade

Sexo sem amor,

É vontade

Amor é um

Sexo é dois

Sexo antes,

Amor depois

Sexo vem dos outros,

E vai embora

Amor vem de nós,

E demora

Amor é cristão

Sexo é pagão

Amor é latifúndio

Sexo é invasão

Amor é divino

Sexo é animal

Amor é bossa nova

Sexo é carnaval

Amor é isso,

Sexo é aquilo

E coisa e tal...

E tal e coisa...”

Não vou analisar cada verso - seria muito tedioso. Fiquemos só com estes: “Amor é bossa nova / Sexo é carnaval”. Anhã....Quer dizer que o pessoal da Bossa Nova não fazia sexo? E das folias de Momo não pode brotar o amor? Me dêem licença! O site onde recolhi a letra a atribui a Cilze Mariane, Costa Honório, Rita Lee, Roberto de Carvalho e Arnaldo Jabor. Juntarem tantas pessoas pra escreverem uma besteira dessas!

Pois bem, voltando ao tal livro, queria dizer que difícil é atribuir um grau de amorosidade maior à mulher, sem levar em conta os papéis sexuais que a natureza nos deu e as condições sócio-econômicas que têm permeado a nossa evolução do neanderthal ao Homo Sapiens. Lembremo-nos, a propósito, de que os homens em geral são criados por mulheres.

Eu nem vou negar aqui as canalhices e jogos de dominação que os homens têm perpretado em prejuízo das mulheres nesses milênios todos. O meu objetivo não é defender uma causa contra a outra. O meu objetivo é tão-somente colocar elementos para pensarmos, de modo que cheguemos a conceitos mais refinados de amor e de sexo.

Vejam o legado de ingenuidade que nos deixou o platonismo, por exemplo: homens que não conseguem se aproximar de mulheres, e que as vêem como deusas de uma esfera inatingível? Movido pelo espírito platônico (ou excessivamente cristão), um homem pode abstrair delas a condição de fêmeas, e nutrir em seus corações (ou pulmões) um amor romântico-espiritual, nada mais nada menos que um desejo (não resolvido) pela mãe.

Na mulher, só o contato sexual faz despertas nelas o que costumam chamar de amor. E em geral, se o contato é prazeroso, o amor tende a permanecer e a crescer, mesmo quando os demais aspectos da relação não são bons.

Sob este ponto de vista, portanto, quem é mais ligada a sexo é a mulher. Enquanto um homem pode ficar dando voltas ao pensamento, movido pela fantasia de uma mulher, da qual nem tocou um fio de cabelo, a mulher não vai considerar um homem digno de seu amor (e até digno de ser chamado homem) enquanto não der "conta do recado", o que em certas circunstâncias pode ser bastante trabalhoso. Não seria exagero dizer que temendo o grau de exigência das mulheres no campo das relações sociais e econômicas, muitos homens morrem de medo de sexo ou da ligação que o sexo pode estabelecer com um mulher que pode levá-los aonde menos eles gostariam de chegar.

Bom, mas aí poderemos atolar no perigoso terreno dos preconceitos e dos ditos vulgares, que já ouvi da boca de mulheres e homens: “mulher é bicho safado”, “homem é bicho bobo”. Quanta mediocridade!

O que a gente não vê é que somos todos seres desamparados neste mundo. Carentes de realização carnal e de afeto, mas pressionados pela sobrevivência e a disputa feroz a que nos impõe os donos do dinheiro grosso e sujo dos banqueiros de bicho dos banqueiros de bancos.

Homens são da terra, e as mulheres também!

Nelson Oliveira
Enviado por Nelson Oliveira em 27/04/2006
Reeditado em 27/04/2006
Código do texto: T146181