Picardia – Uma reflexão de quarta-feira de cinzas
Sem querer puxar a sardinha para o nosso lado, mas sem modéstia alguma, reconhecendo que só nós os poetas e aprendizes, possuem esta qualidade rara de características muito próximas, das crianças, dos filósofos, dos anjos e dos loucos, é que me motivei a fazer mais esta inútil reflexão. Dentre tantas outras...Risos.
O faço lembrando-me do grande filósofo Sócrates, que foi acusado de corromper os jovens e menores de idade, tal qual somos nós ao desvirtuarem a nossa proposta revolucionária de construir um mundo mais justo, socialmente igualitário e amorosamente solidário, sem a corrupção do moralismo doentio, que perpassa e permeia a mente de tantos dos nossos semelhantes, até mesmo poetas e poetisas, com quem convivemos no dia a dia...Lamentávelmente. Não refresco o feofó de ninguem nem o meu... Próprio.
Não há como não falar dessa diferença que nos sustenta e dá a inspiração alimentar dos nossos poemas, que nos diferenciam dos demais seres da mesma espécie humana, nos tornando muito próximos da natureza divina, embora bem longe dessa possibilidade real, num potencial filosófico e metafísico quanto cosmológico, possamos e devemos almejar a este sonho, porque é justamente aí que reside o poder de nos diferenciarmos do mais comum dos mortais.
Eu reflito aqui para que sejamos compreensivos, uns com os outros, nos nossos excessos dos vôos poéticos, dos sonhos megalomaníacos de aproximarmos uns aos outros, sem ódio no coração ou maldade quaisquer nas intenções, como a inveja ou a vaidade que tanto habita os mesmos espaços de produção e convivência nem sempre harmônica e salutar. Ah! Como isso constrange ao percebermos os desvios que existem em cada um de nós formados culturalmente pelos preconceitos vigentes dessa sociedade patriarcal equivocada.
O que venho querendo dizer aqui é que somos dotados de um espírito, de humores, assim mesmo... Meio anormais, loucos, santos, puros, demoníacos, bruxos, excêntricos, simples, complexos, intensos, propensos aos sentimentos mais díspares e que para tudo isso é preciso paciência ou entrar na onda poética dessa ‘demência’... Não tão habitual e comum nos demais mortais tão pobres e iguais no proceder. Então... Tolerância com a nossa raça poética é o mínimo que se pode pedir em favor da arte.
Tenha, por favor, um olhar generoso, uma maior dosagem de bondade para com os nossos desvios, i.é, se querem que nossas fantasias, nossas letras, estrofes, sussurros, gritos, lampejos, solfejos, versos, bocejos e até merda e bosta mesmo que sai da nossa lavra, como talvez sejam estes pensamentos livres ou orações gritadas ao vento como uma lágrima ou um lamento pelas incompreensões...
Sei lá o que nos faz assim... Só sei que transcende ao meu querer e supera essa vidinha comum dos iguais que daqui há pouco vai também se escafeder numa cova rasa sem sequer ter vivido o prazer de romper a hipocrisia de viver a obedecer a tantas insensatas regras.
Faço aqui este desabafo não para ser esnobe ou tentar defecar ensinamentos quaisquer na forma de proceder de quem quer que seja, mas como uma espécie de gozo mesmo da nossa própria espécie (incluso também eu) que vira e mexe não se compreende e arremessa sobre as cabeças um sentimento de culpa por sermos ou tentarmos ser livres do jugo da maledicência.
Eu sei que fazem isso por pura ignorância de seu autoconhecimento da conquista que teve da própria liberdade, ao ser dotado com esta dádiva da inspiração poética e profética que o distingue dos demais seres que habitam a este planeta putrefato.
Penso que no dia em que nos perdoarmos lá no mais profundo íntimo, onde mora a igualdade, a verdade, a fraternidade, a liberdade, então a nossa ‘categoria’ irá viver momentos de glória, paz, harmonia, amor e talvez a inspiração até venha com menos paixão, mas será fruto do produto mais puro e bonito que é o respeito ao direito de ser poeta, com seu próprio jeito e cheiro, entupido de defeitos. É o meu caso... INFELIZMENTE! Peço humildemente perdão por ser assim diferente de você... Assim criado e malcriado...
Hildebrando Menezes