Sábado, Março 03, 2007
Esse é o primeiro cigarro do dia.
Venho andando do salão até a minha casa pensando no Discurso "sôbre" o método, penso no bom senso, e penso nele. Penso sobre a disparidade dos nossos conceitos. Penso sobre a mulher pregada no ponto de ônibus, de costas para o tráfego da Real Grandeza. Penso nas pessoas que vejo todos os dias na minha rua, sobre os cachorros, sobre o legado que deixam nas calçadas feito presente de grego. Penso nos gregos.
Jogo o 1o cigarro do dia na poça, na metade. Penso sobre o gosto dos demais cigarros do dia, sobre o que é destituído de gosto, o que é destituído de cor.
Penso sobre as crianças jogando bola no jardim do meu prédio. Penso sobre crianças, e bolas, e jardins, e prédios. Agarro, seguro dentro de mim, todas as coisas que penso durante o trajeto. Pensar em perder qualquer coisa me assusta. Acabo de me lembrar de um fragmento de pensamento que tangenciava todos esses outros. Era obviamente sobre pessoas e terminava com "Todas elas, qualquer uma". Apesar do esforço, não consigo recapitular o cerne da idéia.
Sou acometida pelo sentimento constante (e aterrador) de que determinadas coisas me escapam todos os dias. Aniversários, pessoas, idéias, conversas, flores, cenas, filmes, palavras, cheiros, telefones... Sofro deste mal chamado apego. Esquecer, ou não lembrar, significa que não importa o quanto eu tenha cuidado com tudo que me cerca, tudo simplesmente vai - com o meu atestado, ou sem a minha dispensa.