Noturna

Anoitece.

É ai que eu desabrocho. Sou da noite. Uma mulher noturna eu diria. Uma mulher em duas. Dualidade já faz parte da minha vida.

Dividida entre dois homens. O corpo é de um, o coração de outro. O corpo obedece aos desejos despertados pelo coração. Mas como nunca é plenamente satisfeito, está sempre querendo algo mais, desejando realizar-se completamente.

Sou dividida em dois. Disseram-me que somos únicos, que não somos metade de ninguém, que essa coisa de encontrar a ‘sua metade’ é mentira.

Então porque me sinto completa só quando estou com você? Passamos horas conversando, se amando [de longe] e quando nos despedimos, parece que foi apenas um instante que estive com você.

Ai amanhece. Volto pro modo concha. Ostra. Fria, gelada e gélida. Passo o dia como um autômato. Ansiosa pra chegar a noite e com ela meu despertar.

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Milena Campello
Enviado por Milena Campello em 21/02/2009
Reeditado em 06/01/2010
Código do texto: T1450710
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