A FERA DA VIDA QUE LAMBE A FACE DO POETA
A FERA DA VIDA QUE LAMBE A FACE DO POETA
AO MAIS MARGINAL DOS POETAS: MAX MARTINS
No dia de ontem (09/02/2009) a fera da vida lambeu a face enrugada por tantos versos, que saíram de tantas páginas, em revoadas, fazendo um imenso emaranhado de sentimentos: vivos, fortes, únicos, imortais, livres...!
A existência do ser é tão curta e rápida que quase não se percebe que já se passaram mais de oitenta anos. Mas, como se pode registrar o tempo na íntegra?
Como se esquece os passos, as palmas, as gargalhadas, as lágrimas, as insônias, os sonhos e as tristezas?
Quanto tempo leva para um ser poeta morrer? Mas poeta morre? Não sei! Alguém sabe?
Existem tantos poetas ainda vivos que têm mais de duzentos anos, que quando nem bem esperamos, eles adentram nossas casas como borboletas que visitam os jardins pelas manhãs.
Tantos poetas esperam, despreocupados, sua vez, em que a dama da travessia virá cortejar suas almas sedentas de vida, até mesmo, após a travessia.
Mas a fera da vida é implacável e sem pudores. Seu instinto sobrevive com a queda dos seres alados que saem de suas cavernas escuras, frias, pálidas, enrugadas, sujas, fedidas, velhas...
Quando parte para longe um poeta, galgando novos fins ou novos começos, em velhas sensações inflamadas, que ainda possibilitam novos títulos para antigas pegadas recém re-esquentadas e com o frescor de tinta de caneta azul sobre a página imóvel e pálida; que atribui sua existência à resistência de um corpo híbrido por natureza química, sentimental, psicológica, física, espiritual; ausentemente presente por trás do espelho da vida, agora quebrado.
Poetas são magníficos seres sensoriais, destinados a compreender a vida e a morte como tão simples páginas escritas e viradas lentamente, uma a uma.
É, meu caro poeta, acabas de virar mais uma página para escrever novas misuras, atrevimentos e outras coisas que somente tu saberás como retratar em tua nova caminhada para novas emoções...
Todos os poetas do Norte estão alegremente tristes, e já com saudade do mais nobre poeta plebeu ribeirinho, deste nosso imenso rio-mar oceânico; de tantas pororocas de poemas, versos e poesias, que enchem e vazam com as nossas águas doces, salgadas, salubres, barrentas, negras, cristalinas; que lambem os cascos dos pôpôpôs de miriti, embuchados de redes, indo para as altas águas da alma do poeta. Agora mais Max Martins do que nunca, e mais livre como seus versos.
Você se considera um poeta marginal?
“Poeta sim,
Marginal? Sempre!”
(Max Martins)
Dedicado ao falecimento de Max Martins no dia 09-02-09. Adeus caro poeta.
Anna Voegg
Escritos cotidianos para Mary Dom (Cartas nunca lidas)
Belém, 10/02/2009