SIMPLESMENTE CRER

Usamos expressões como: “eu creio que...”, “estou propenso a pensar que...”, além de expressões como: “fé pública”, etc..

Sempre cremos em alguém ou em algo. Confiamos nossas vidas às pessoas porque estamos propensos a pensar que são dignas da fé pública. Tomamos o carro confiando que somos bons motoristas, confiando tanto mais na fábrica do veículo, de quem mais dependerá se chegaremos ou retornaremos vivos. Confiamos que os outros motoristas não são bandidos e não serão dominados por seu potencial assassino a qualquer instante. Tudo isto ocorre porque temos fé que está tudo bem.

Como podemos estar certos que está tudo bem, se todos os dias somos aterrorizados com as notícias? Se os seres humanos são egoístas e os donos das fábricas laboram meramente pelo dinheiro, que garantia temos de que nosso carro não perderá uma peça importante quando em alta velocidade e não seremos estrangulado? Que prova temos que os outros motoristas não estão alcoolizados, ou transtornados, talvez de mal com a vida, querendo pôr fogo no mundo? Que garantia temos que a comida não está envenenada, que não comeremos carne de rato, de cavalo, ou moscas, se os próprios fiscais da Higiene podem ser bêbados e corruptos?

Quem confere a fé publica ao tabelião, ao policial, ao juiz, se as próprias universidades que formam os advogados não respeitam os direitos dos alunos e as leis são criadas e aprovadas por políticos corruptos? Como podemos entrar em um elevador e ir até o vigésimo andar de um edifício, estando bem tranqüilos, se os engenheiros cometem tantos erros de Português e não sabem quase nada da história, além que gostam de economizar?

Afinal, temos fé. Cremos com extrema confiança em pessoas e instituições que não são tão dignas de confiança, pois sempre são manipuladas por interesses. Todavia, temos fé, confiamos em tudo isto e sempre sobrevivemos, apesar de que não temos garantia alguma, pois a empresa que deu garantia do carro que compramos pode nem conseguir responder por ela mesma, muito menos depois que estivermos mortos por causa da peça quebrada.

Alguma vez pensamos nisto e nos damos conta de que em tudo temos fé? E se não tivéssemos, o que faríamos, como iríamos a aula crendo que o professor lá está, que a sala não queimou e a matéria que nos ensinarão é empiricamente científica, se dificilmente entraremos em um laboratório experimental para testar o que nos ensinam?

Em verdade, jamais questionamos a fé que temos neste sistema que tantas vezes tem nos desapontado. Nem por isto essa fé deixa de ser fé. E, diga-se de passagem, a mais insólita e insana. Porém, quantos que não oferecem a menor garantia sobre as teses que pregam, tampouco expõe-nas a experimentação, dizem que a fé é fraqueza, sendo que valem-se dela para sustentar seus teorias e impô-las sobre os outros.

Contrapondo, parece que tudo dá certo simplesmente porque cremos. Mas não é bem assim, pois embora negamos, existe alguém interessado nos assuntos de todos nós, mediando os interesses para que na média possamos estar bem, mesmo que uns mais e outros menos.

Claro que num mundo onde cada um puxa brasa para o seu assado é difícil fazer mediação satisfatória. Sempre um sairá mais satisfeito do que o outro. Todavia, se vivemos e continuamos vivendo, acreditando nas instituições e nas pessoas é porque existe um Deus que provê para que os instintos egoístas não prevaleçam e nos conduzam. Então podemos contar uns com os outros, sabendo que termos emprego, salário, segurança, comida, mesmo que o patrão desejasse mesmo ficar com tudo para ele, que o ladrão deseje assaltar sem o menor impedimento, que o dono do supermercado queira cobrar dez mil por um quilo do feijão.

Com justiça, não há como as coisas estarem em equilíbrio. Logo, existe um Deus que mantém tudo, que nos dá o que muitas vezes nem movemos um dedo para conseguir, que nos faz nascer, parar em pé, ouvir, pensar, sentir, amar.

Se crêssemos neste Deus confiável como temos crido nas coisas inseguras que cremos, pediremos coisas dificílimas e Ele nos daria, pois deseja apenas que creiamos para vencermos nosso orgulho e pedirmos.

Portanto, se crermos em Deus, assim como cremos nas instituições e nas pessoas, seremos muito mais felizes.

Wilson Amaral

e-mail: wilsonrsamaral@yahoo.com.br

Wilson do Amaral Escritor
Enviado por Wilson do Amaral Escritor em 24/04/2006
Reeditado em 30/11/2006
Código do texto: T144651