SÉRIE ALMAS PEQUENAS Nº 16 - O INDIFERENTISMO
Há quem não sinta o mínimo interesse pelo clamor da coletividade;
Que é surdo para os gritos da cidade, que vive sem a força da paixão;
Nada remove as neves de seu coração, não lhe revolta a foice da maldade;
É vacinado contra sensibilidade, jamais lhe invade a indignação!
O pão solicitado nas calçadas, a violência de avidez imperatriz;
Julga ser algo que não lhe condiz, consciência interventora nem lhe é remota;
A injustiça é mazela que não lhe revolta, para a exclusão torce o nariz;
Presume o preconceito como mito de quem diz, e mesmo a miséria pouco lhe importa!
Não lhe desperta a íntima cólera qualquer indigna ação;
Não repudia a exclusão, a sua alma é estéril de atitudes;
Nada produzem suas supostas virtudes, nada desfaz sua estagnação;
Não interage com a história de sua geração, não auxilia quem carrega as cruzes!
O veneno do ópio corruptor lotou o seu olhar de lama e cisco;
Está contente com o pão e circo patrocinado pelos maus governantes;
Ignora o amanhã de seus presentes instantes e se faz aliado dos riscos;
Mas o futuro há de fazer confiscos, cobrando toda inércia havida no antes!
“A corrupção que aniquila a dignidade de um povo é proporcional à sua falta de mobilização” (Reinaldo Ribeiro)