Essa Tal Liberdade

“Liberdade não é tudo. O que eu procuro ainda não tem nome” (Clarice Lispector).

Essa frase veio de encontro aos pensamentos sobre liberdade que eu já tive e sobre todo o questionamento que a sensação buscada além do significado da palavra inspira.

Às vezes eu penso que liberdade é utópica.

Vivemos num mundo acelerado, onde as informações são vomitadas aos montes já meio digeridas e meio inteiras e tudo aquilo que é produzido em um mês de informação precisa de no mínimo mil anos para ser processado.

Somos bombardeados por notícias e conhecimentos que se tornam obsoletos da noite para o dia.

Temos a liberdade de escolha. Temos mesmo?

Temos a liberdade de expressão. Até onde?

Temos a liberdade de ir e vir. Do trabalho para casa?

E se fosse listar o tanto de liberdade que temos, imagino eu que seria desolador, ao final das contas vemos que não temos nenhuma.

Vivemos presos em qualquer coisa que nos faça ter de escolher: trabalho, escola, igreja, família, amigos, esposa, marido, namorado, namorada, prestações e haja lista de prisão.

Nossa própria alma passa em média setenta anos presa num corpo.

Cadê a liberdade?

E mesmo que num momento de surto resolva-se deixar tudo para trás, certamente ninguém é livre enquanto tiver plena consciência de si.

Essa falsa ideologia de liberdade meramente capitalista põe trava nas portas dos sonhos de liberdade da maioria de nós.

O consumismo virou nossa algema e a tecnologia a mais deliciosa maneira de estar preso ao futuro que já é hoje.

Ninguém mais pensa em se distrair passeando no parque, mas é capaz de ficar horas jogando vídeo-game.

Livres mesmo são as pessoas que estão ocupando cada vez mais espaço nos manicômios. Elas pelo menos não têm outra prisão: a obrigação eleitoral.

Livres mesmo são os detentos que se espremem em celas encardidas, pagando com a negação de sua liberdade a decisão que tiveram de tentar manifestar a liberdade que acreditavam ser certa.

Livres mesmo são as almas que já se desligaram dos corpos doentes e velhos e ganharam o espaço imaginário e infinito que nem sabemos se existe.

Enquanto penso em liberdade, sigo aqui prisioneira das minhas idéias e dos meus ideais. Sei que enquanto viver estarei condicionada à escolha do tipo de prisão temporária que viverei.

Só pode declarar-se verdadeiramente livre aquele que nunca amou, e ao mesmo tempo, declara-se infinitamente infeliz, pois não há na existência prisão tão desejada e por poucos privilegiados verdadeiramente habitada.

Liberdade e Amor são antagônicos, mas a harmonia entre os dois não é impossível nem utópica.

Fernanda Vaitkevicius
Enviado por Fernanda Vaitkevicius em 09/02/2009
Código do texto: T1429250
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