"Mundo Cego "
Dentro do riso torto que disfarça a amargura da indiferença,
na mágica luta diária ,
no milagre esperado ou descrente ,
no desamor das mãos ,
no engano , pão de cada dia ;
pode-se estar como um autômato ,
servo noturno de um próprio mundo cego ,
só e ferido ,
dentro da multidão ou de si mesmo .
Se raspas o fundo do poço da vã consciência ,
acha-se ainda restos imortais de esperança.
Há uma sedução voráz ,
da engrenagem organizada e fria ,
que devora toda a ternura ,
a alegria de dar e receber ,
o gosto de ser gente e de viver .
Existe uma crosta que se cultiva ,
com duresa e medo ,
com reserva delicada mas perfeita ;
uma poeira que embaça a sombra ,
uma triste certeza que tudo é um tenebroso e gélido refúgio.
_Aos feridos e sós ,
que conhecem o animal sonoro ,
profundo e feroz que reina no peito ,
indescritível como a fantasiosa história do Mago de Òz ...