COISAS QUE FAZEMOS ACONTECER

Satisfação, amor, paz e felicidade. O que está faltando?

O que vem primeiro: a galinha ou o ovo? A satisfação, o amor, a paz, ou a felicidade? É preciso satisfação para produzir amor? Para ter-se paz é preciso estar desfrutando de felicidade? A felicidade depende da satisfação e do amor, ou é preciso estar em paz para sentir-se satisfeito e poder amar e ser feliz?

Muitos vivem enterrados no estresse enquanto outros, no mesmo mundo e problemas idênticos, sorriem. Algums não acham a via por onde fugir da morbidez, enquanto outros têm uma vida bem ativa, apesar de pouco possuírem. Alguns imaginam que quando tiverem dinheiro sairão para viajar, então escaparão da monotonia de suas vidas sem graça, ao mesmo tempo em que uns emprestam livros na biblioteca e desfrutam de viagens excitantes por mundos incríveis, completamente novos, onde aprendem a driblar a sordidez da existência, conhecer as fábulas dos homens que mandam no mundo, calcando a realidade com mais firmeza. Isto tudo sem gastar quase nada.

Então a felicidade não depende da satisfação, mas de querermos ser felizes?

Retifico: A felicidade depende da satisfação, mas esta depende somente de nós, do quanto queremos ser felizes. Nosso estado emocional está intimamente ligado com a satisfação. Algumas pessoas vivem com os nervos à flor da pele, parecendo que não querem ser felizes, pois trocam a felicidade pela irritação, preferindo esta. Algumas são intolerantes, tudo as irrita, enquanto outras são serenas, portadoras de uma sobriedade sem igual. Não há como os primeiros se satisfazerem com acontecimentos que não conseguem atingir seu nível de exigência. Aos seus olhos, os outros cometem todo tipo de gafe que os irrita, porque eles são perfeitos. Tais pessoas não suportam que os outros sejam tão brincalhões. A seu ver, são escandalosos, se comparados, é claro, à sua seriedade. Para eles, ninguém pode se atrasar, porque eles são pontuais. Não toleram faltas, porque jamais prometem o que não podem cumprir.

Impossível é sua satisfação, porque a seu ver o senso de humor dos outros é muito simplório, a forma como se conduzem é inconveniente, seus vizinhos possuem ideais tão mínimos, os presentes que todos lhes dão não é o que querem. Isto tudo os irrita muito, porque são altamente irritáveis, porque seu sistema nervoso, hipersensível, os controla, não conseguem controlá-lo. Não é que sejam superexigentes e intransigentes porque querem, é que isto está neles. Já gostariam de ter mudado, mas não conseguiram. Na verdade, sendo ranzinzas, emburrados e turrões, esperam fazer que as pessoas se toquem que estão sendo injustas e voltem arrependidas, se humilhando e dando-lhes razão, assim têm uma lição. Têm que ensina-las.

Certamente sentem-se reis, com todos a disposição como bobos da corte, preparando-lhes um espetáculo e se esmerando para os agrada-los! Tudo gira em seu redor e tudo existe para os satisfazer, apesar de que não se pode satisfaze-los, porque são melhores do que os outros.

Por uma razão simples isto acontece: não são gratos. Mas digo que, se estamos vivos, embora sem roupa, casa, comida e amigos, já temos pelo que ser gratos, pois temos oportunidade de ir atrás da roupa, da comida, do lugar para morar e uma boa dose de simpatia atrairá muitos amigos. Não precisamos que ninguém faça nada por nós, podemos nós mesmos produzir a satisfação de nossas necessidades. Por outro lado, se já possuímos roupa, casa e comida, devemos ser gratos, porque já estamos um paço à frente e podemos partir para o próximo passo, ir atrás de outras coisas que queremos.

Sendo assim, antes de alcançar o que almejo, estou satisfeito, pois possuo condições para chegar ao que almejo. Logo, amo o que já possuo, pois isso me propiciará chagar as realizações maiores.

Alguns não conseguem satisfação porque dependem dos outros, ao invés de ser gratos pelo simples existir. Também dependem do dinheiro, do tempo, da tv. Entretanto, aquele que deseja ter satisfação, produz sua satisfação a partir do nada. Se pretende ler um livro, encontra tempo para ler no ônibus, no trem, no metrô, andando na rua. Se quer ter um amigo, acha tempo e motivos para tê-lo. Se quer perdoar, acha uma justificativa para tal, então não morre de rancor. Assim, tudo que desejar terá.

Todavia, muitas vezes parece mais fácil suportar a morbidez do que sair do comodismo e pôr a mente a funcionar em prol de arranjar tempo, uma saída, uma razão, um motivo. É mais fácil culpar as circunstâncias e os outros do que fazer algo, aprender a gostar de alguma coisa ou de alguém mais simples, que não produza tantas contrações corporais, mas uma satisfação mais plena e duradoura, sem conseqüências caras, ou buscar um conhecimento novo, sair da frente da tv para ir a algum lugar.

Alguém satisfeito é alguém de bem com a vida, sem crise existencial, que jamais será vítima de ninguém, pois ninguém o pode derrotar. Essa pessoa tem tempo para amar porque não tem que pensar tanto em si. Logo, o amor que tudo crê e tudo suporta se preocupa em ajudar àquele que realmente não tem nada, que perdeu a vontade, que é o bem mais precioso. Assim é que se produz a paz: paz de consciência e desta paz é que resulta a paz mundial. Alguém em paz consigo mesmo não tem medo de sair a rua, pois dificilmente será agredido. Porque uma vez que outra é que somos agredidos na rua, porém, para aqueles que não têm amor e misericórdia, parece que todos estão contra ele. Não seria a sua consciência?

Logo, já não nos faltará satisfação, amor, paz e felicidade, pois tudo isto são coisas que nós é que fazemos acontecer.

Wilson Amaral

Wilson do Amaral Escritor
Enviado por Wilson do Amaral Escritor em 20/04/2006
Reeditado em 14/06/2006
Código do texto: T141949