Você tem sede de que?
Tenho vivido nos últimos dias uma situação de sede insaciável. Tenho tomado mais água do que a normal quantidade (que não é pouca) diária.
É, pode-se pensar que deve ser mesmo por causa do calor. O clima está muito parecido com o interior de um forno em plena atividade.
Talvez eu tenha sentido mais sede do que o normal por estar a algum tempo caminhando no deserto. Embora viva na cidade, existem indubitavelmente os desertos internos aos quais nos submetemos caminhar longamente.
Se prestássemos mais atenção aos sinais reais do ambiente, das pessoas e mesmo aos nossos, é bem provável que tivéssemos grande parte de nossa saciedade explicitada e satisfeita sem sequer ingerir sólido ou líquido.
Essas vontades repentinas que acontecem, seja água, refrigerante, comida ou chocolate, aparecem como um sinal da sua mente dizendo: Eeeeeiii!!! Será que você pode tratar de encher esse vazio aqui???
Erradamente interpretamos o vazio como fome ou sede física, quando na verdade a origem é outra.
E temos o péssimo habito de não ficarmos atentos aos gritos do inconsciente... E a sede, fome só fazem aumentar.
Na pior das hipóteses, tem gente que sem saber como preencher o vazio, procura saciar as necessidades com álcool e/ou drogas.
Muitas vezes são coisas muito simples de serem resolvidas, outras nem tanto.
O fato é que quando se descobre que a água que se quer beber está num poço fundo e sem balde, o negócio é tratar de providenciar um jeito de saciar sua vontade.
Eu não posso me jogar no poço. Na verdade já estou dependurada na ponta da corda. Na outra mão eu tenho um conta-gotas e talvez por isso seja tão difícil de saciar a sede, porque não consigo um gole grande d’água.
De qualquer maneira, me sinto feliz porque tem gente que nunca viu água, nem poço e anda vivendo sem saber como fazer para saciar a sede do que quer que seja, caminhando em seu deserto não sabendo também aonde quer chegar, se é que vai chegar a lugar algum.
Enquanto isso eu fico aqui na ponta da corda, aproveito para descansar, sinto o soprar morno do vento enquanto brinco de balanço pra lá e pra cá no malabarismo de seqüestrar do poço a minha água em gotas.
Até na falta é necessário sabedoria e paciência. O mais importante é manter a disciplina e o foco.
Eu sei que quando terminar a travessia do deserto existe um rio cristalino de água limpa e tranqüila, me esperando de braços abertos para saciar minha sede do corpo, da mente e da alma.