Minhas crias, meus amores
Gosto de que esses tempos tenha preferido escrever.
Se pintasse telas, não conseguiria separar-me das minhas crias coloridas. Iria enfileirá-las em sótãos, porões, despensas, se não coubessem nos quartos, nas salas e corredores. Eu, autora, não iria vendê-las, doá-las; não suportaria vê-las partindo para outros interiores até um dia ou até nunca mais.
Como escrevo, meus textos vão a todos os lugares para onde quiserem levá-los, mas também ficam comigo, autora, e serão sempre meus. As telas, se as multiplicasse, seriam cópias, as primeiras, mais valiosas, se tivessem algum valor.
Os textos, multiplicando-os, irão todas as cópias com o mesmo valor e serão( os textos) ainda meus; o livro, ou outro meio de comunicação, é que será ou não original e pertencerá ao novo dono. E conteúdo e forma continuarão íntegros em minha mente, de onde saíram, e chegarão ao meu leitor como saíram de mim. Só que nele a obra será recriada segundo a leitura e interpretação de cada leitor. Não haverá perdas nem acréscimos no processo, nem arranhões na criação.
Já a recriação, bom, a recriação é com o leitor. Eu falo aqui da criação.