SÉRIE ALMAS PEQUENAS Nº 13 - A INSENSIBILIDADE
Tá cheio de auto-estima e se achando vai pisando no pescoço sem ter dó;
Diante do espelho se sente um pão-de-ló, maltrata e até debocha;
Julga seu domínio uma rocha, esmaga quem lhe ama como um pó;
Noutra garganta injeta um nó, é um perante a face e outro pela costa!
Está ciente do amor que lhe contempla, faz pouco caso do revés num amanhã;
Sua frieza é tão vilã que chega a ponto de escarnecer do pranto alheio;
Espanca a alma de seu esteio, seguro que seu fel terá salário de avelã;
De consciência sã reduz a relação à informalidade dum passeio!
A ilusão é miopia presente no olhar dessa figura;
Semeia amargura no interior de quem mais lhe dá valor;
Mente sem pudor, é moeda que oculta sua câmara escura;
E enquanto a beleza lhe perdura, faz pouco caso de um vindouro dissabor!
Então sua vítima, moída por cansaço, subitamente lhe abandona;
Assim lhe vem à tona aquela aguda dor mortal que semeou;
Do alguém que ontem chorou sua maldade não é mais dona;
Sua miragem não mais lhe engana - a cobrança finalmente chegou!
“Quem faz sofrer um grande amor, agenda para a próxima esquina o seu encontro com a dor!” (Reinaldo Ribeiro)