Insanidade Febril
"Eu não sabia onde estava... Procurei por um caminho para retornar...Não haviam caminhos. Haviam apenas montes de entulho que imitavam montanhas, como que colocadas propositadamente, distantes umas das outras numa mesma medida.
O desespero invadiu... Gritou... Ecoou... Não havia ninguém que ouvisse. Não havia mais nada além de uma linha livre e reta seguindo no horizonte. Onde estavam os montes, os prédios? Muitas nuvens no céu alaranjado... Não sabia se eram as nuvens habituais ou montes de poeira que flutuavam livres. Elas engoliam-se...
Caminhava arrastando-me e parecia não sair do lugar como se uma esteira mecânica estivesse debaixo de meus pés... Para qualquer lugar que olhasse... Onde quer que eu estivesse....Era tudo igual. Eu andava ouvindo meus passos asperos criando um rastro de pó... E tudo era exatamente como vários passos atrás...
Não havia ar respirável... Apenas um ar quente empregnava tudo... Eu sentia-me sufocando cada vez mais... Eu queria gritar, mas aquela onda quente entrava pelos meus pulmões mal me permitindo respirar... Não podia respirar... Aquele ar quente obstruia as narinas, rasgava a garganta... Secava os lábios e deixava um gosto na língua de terra.
Girei em torno de mim mesma... Tudo igual... Procurava em meio ao nada por alguém... O que havia acontecido? Uma catrastofe a nível mundial? Como fui parar ali? O que eu estava fazendo ali? Eu sentia meu corpo imóvel retorcendo-se... Tentando libertar-se... De que?
O pavor invadiu-me de vez! Reuni minhas poucas forças e me coloquei a gritar desesperadamente:- Tirem-me daqui! Não consigo voltar! Quando a voz saiu depois de grande dificuldade, gritava repetidamente....
Agonia... Eterna agonia... Desespero... Desespero pela falta de ar... Pela falta de direção... Pela falta de compreensão... Não havia o tempo... Não havia o espaço... Não havia vida. Eu estava na eternidade ou no inferno?
Pensei ter ouvido ao longe uma voz... Novamente o desespero... De onde ela estaria vindo... Procurei, andei, busquei... Eu estaria enlouquecendo? Seria aquele sopro quente fingindo ser o vento?
Eu gritei novamente:- Me tirem daqui! Por favor! Não consigo voltar!
Aquele lugar respondia com um silêncio mórbido... Eu iria morrer ali... Eu era a última coisa na face da Terra onde sobrava vida!
Retornou aquela voz, agora mais nitida:- Você não precisa voltar... Está aqui! Você está aqui!
- Aqui onde? Onde estou? Me tirem daqui!
Existe o 'depois' após a eternidade? Existe escapatória depois do inferno? Pois logo após gritar, abri meus olhos... Não havia se passado uma eternidade, apenas duas horas... Meu corpo queimava como brasa viva e meu leito estava encharcado... Não, não estive no inferno... Lá sempre será um lugar populoso... Não estive na eternidade... Ela não tem fim...Era uma febre alta que alucinava-me... Ardia sem causa aparente... É o que dizem...
Para mim... Não era febre... Estive no fim do mundo!"
São Paulo, 22 de Janeiro de 2009.