Prisioneiro de Mim.
Não há bem como me compreender e não me importei em tentar explicar o que me fez ser assim.
Mas a verdade é bem simples, apesar de profundamente ser cheia de espinhos.
Mas lembro bem quando tudo começou. Aqui, nessas terras, com essas pessoas, sempre serei um estranho. Até invejo sua ambições simples, comuns e de como a felicidade é algo alcançável a elas. E acredite quando digo que queria ser assim.
É difícil você descobrir que nunca terá seu espaço em sua própia vida, quanto mais ter que aceitar que nunca terá uma vida.
Foi em um cinema que essa certeza teve início, pois não sou de sair para beber, farrear, ter alguém e traí-la por diversão. Quando se é só o tempo todo, ter alguém é precioso demais para fazer algo assim. Foi assistindo a um filme que vi um casal de idosos e olhando a minha volta constatei os outros casais, de várias idades que se encontravam ali, que me veio a revelação de que nunca teria algo assim. Lembro-me bem que jamais tinha me sentindo tão só em minha vida antes.
Saí sem olhar para ninguém a minha volta, algo que até hoje ainda faço, e decidi a me concentrar em meus sonhos, em realizar algo que me fazia bem, sem me importar com dinheiro ou o futuro. Concentrei-me em meus talentos... Em desenhar, em pintar, em escrever e em tudo que eu pudesse criar, pois a arte era meu sopro de vida, era o que me fazia acordar todos os dias, mesmo nos mais tristonhos.
Nunca tive ninguém para dividir um sonho, um pensamento se quer, mas tinha minha a arte e isso me bastava, era o suficiente para me fazer sonhar e sorrir.
Agora tente imaginar quando arrancam seu coração, o que resta depois disso, além de um buraco repleto de ausência?
O que você se torna?
Eu respondo sem reservas. Você se torna NADA.
E aprende a ver o mundo com olhos que jamais queria ter, você se torna carne viva, mas sem alma e perde mais do que a si mesmo.
Hoje prefiro nem acreditar mais em Deus, pois se pensar em sua existência irei somente odia-lo.
Não creio no amor, não acredito nas pessoas e nem no que elas falam. Não penso se eu existo, que dia é hoje ou se virá um amanhã. Apenas cumpro minha sentença como um prisioneiro em um corredor da morte que não faz nenhuma apelação.
Nada mais importa e creio que nada um dia importou, nem mesmo eu.
Só posso aguardar o fim disso tudo, pois sei que existem coisas piores do que a morte...
Jamais conhecer o amor é uma delas.
Nunca poder sonhar é uma delas.
A solidão em todos os aspectos é uma delas.
Mas a pior é a absoluta inexistência de si mesmo e descobrir que sua vida e seu corpo são somente a sua prisão, castigo e tormento.
A morte as vezes é a porta que abre uma prisão.