Sofrimento de um Espírito
No momento de meu nascimento minha alma, ao ver-se arrastada por força irresistível a este planeta, certamente pensou estar em um pesadelo. Mas passado o momento de confusão e vendo-se privada de sua liberdade pelas amarras da matéria, pôs-se de imediato a lamentar sua sorte, recolheu-se a si mesma e tentava de maneira incessante compreender o motivo de tal abominação. Sentiu, de imediato, as más energias que exala este mundo e estas pessoas contaminadas pelo contagioso vírus do egoísmo e do orgulho. De pronto tentou livrar-se de tais energias que a cercavam, a sufocavam e penetravam seu âmago, malgrado sua vontade e repulsa.
Ao ver sua prisão corpórea desenvolver-se, tornar-se maior, mais robusta devido à idade humana, a alma imaginava-se mais feliz por entender que o fim de tal suplício estava chegando. Porém, em seu íntimo ainda não conseguia se acostumar com tais energias, e agora que compreendia as maldades do mundo e não tinha mais a doce ignorância da criança, o mundo parecia muito mais horrendo aos seus olhos.
Infelizmente, o fraco espírito deixou-se também contaminar excessivamente pela matéria e, em alguns momentos, perde a noção exata de quem é, acha-se totalmente imerso no imediatismo, no stress e nas angustias passageiras da vida terrena.
Até hoje o pobre espírito anseia por sua liberdade, sabendo que não pode furtar-se às provas existenciais. E, tendo consciência de suas responsabilidades, ele não ousa romper com laços carnais antes do momento traçado pelo destino, pela vida, ou por algum Deus.