Tributo a Alvaro de Campos
Com uma caneta na mão,
construo estradas, pontes, prédios, barquinhos, poesias.
Com um copo na mão
sustento almas, sustento princípios,
sustento estruturas formadoras de opinião e sustento contas bancarias.
Limpo nomes, documentos e ouvidos.
Nutro vidas, esperança e cirrose.
Mas dos relampejos da alma,
Dos truques do destino que nada pode se fazer,
a não ser se resignar.
Da camada espessa de seda chinesa por cima do ferro chumbado que,
teima em não enferrujar,
apesar das estruturas estarem todas oxidadas
só tira-se uma conclusão: foi demais.
Meu tempo andou mais rápido
Se perdeu nas picuinhas lavradas por dentro de um imaginário infeliz
Foram-se os dias e ficaram os momentos,
cravados nos olhos, ocupando espaço no peito.
Deixando altruístas de lado, apegando-se a formas injustas.
Será que certos foram àqueles que destituíram nossas letras
para deixar impregnado números num espírito que não sabe matemática?
Que teimosia branda a melancolia faz com o não saber.
Amarras silenciosas prendem-se à alma inquieta e
vestígios de passado é só o que se vê,
num semblante carregado de futuros imaginários.
deitados no templo da escuridão.
Restando a mancha borrada de tinta que ficou no passado
na minha tentativa improfícua de salvar a vida,
esfregando-a com lágrimas, e sabão.