O tempo não existe.
Eu não queria mais ouvir o tic-tac do relógio lembrando-me que o tempo existe, e o que é pior: que ele passa.
Eu negava até a morte em reconhecer o fio de cabelo branco denunciado no espelho do banheiro, tinturava-o, escondia-o dos olhares alheios e de mim mesma.
Fingia não notar que ao invés de ouvir o chamado de 'mãe', ouvia agora os de 'avó'. Ignorava-os.
'Não não, o tempo não existe, meus caros'. Segui com esse pensamento como se fosse minha própria pele, a qual não soltava de mim,
até que um dia fui bruscamente sacudida para acordar do meu sonho atemporal, e isso foi quando ouvi o barulho da terra caindo sobre meu caixão.
Quando então, de repente, com um subto lampejo de lucidez desvairada,
acabo descobrindo:
Enterraram o tempo,
mas eu não!