O tempo não existe.

Eu não queria mais ouvir o tic-tac do relógio lembrando-me que o tempo existe, e o que é pior: que ele passa.

Eu negava até a morte em reconhecer o fio de cabelo branco denunciado no espelho do banheiro, tinturava-o, escondia-o dos olhares alheios e de mim mesma.

Fingia não notar que ao invés de ouvir o chamado de 'mãe', ouvia agora os de 'avó'. Ignorava-os.

'Não não, o tempo não existe, meus caros'. Segui com esse pensamento como se fosse minha própria pele, a qual não soltava de mim,

até que um dia fui bruscamente sacudida para acordar do meu sonho atemporal, e isso foi quando ouvi o barulho da terra caindo sobre meu caixão.

Quando então, de repente, com um subto lampejo de lucidez desvairada,

acabo descobrindo:

Enterraram o tempo,

mas eu não!

Jéssica Valim Amâncio
Enviado por Jéssica Valim Amâncio em 14/11/2008
Reeditado em 18/11/2008
Código do texto: T1283208
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