Erros de interpretação – Uma reflexão
Não há como aferir 'à priori' as causas de um determinado assunto ou fenômeno, sem antes mergulhar fundo numa análise desapaixonada,onde temos que nos abstrair da nossa visão imediatista para entrar lá pelas esferas das minúcias psicológicas que a envolvem.
Qual o conjunto de fatores que nos faz entrar pelo caminho do erro? Se tudo andava às mil maravilhas como fomos cair e se deixar levar por esse labirinto? Onde exatamente ocorreu o deslize da mente? Qual a sua origem?
São muitas as perguntas que devemos fazer a nós mesmos como avaliação dos nossos atos e sem precipitações de julgamento que imponha logo o veredicto da ‘culpa’ ou do ‘perdão’ pelo ato. Tentar fugir dos vícios da religião e seus dogmas que nos cerceiam ou castram.
Simplesmente dar a si próprio o benefício da reflexão, da dúvida. Até porque o ocorrido pode ser uma benção que o encaminhe para melhores caminhos.
Uma defesa razoável é evitar que se deixe contaminar pela obsessão do julgamento preconceituoso, cônscio da nossa ignorância profunda sobre os mistérios da vida e do que perpassa em nossa memória e que provoca e desencadeia o processo do juízo sobre determinado fato.
Uma das categorias mais susceptíveis ao erro é a dos poetas com seus ensaios utópicos e seus sonhos megalomaníacos e tresloucados, por vezes beirando a completa insanidade, embora revestido de um lirismo encantador.
Nós pintamos e bordamos em palavras para descrever as imagens que perpassam a nossa mente e nesse vai e vem literário não temos freios e muito menos controle sobre o que escrevemos, nos deixando levar pelas sensações do momento e só depois é que vamos nos dar conta da intensidade e penetração do voo.
Quando colorimos ou bordamos nossos textos, é algo que acontece assim como uma onda de energia eletromagnética e poética que se interliga aos neurônios como a frequência de uma onda de rádio, pelo menos para mim é assim que acontece sem muita preocupação de aferir se vai chocar ou não quem está do outro lado observando o que escrevi.
Há que se ter sempre como antídoto para essa situação meio mágica e perigosa, da qual ninguém escapa, mesmo não sendo do ofício, uma cautela redobrada quando percebe que acionou alguma sirene. Respira fundo e se afasta do local sem alimentar discussões inúteis e improdutivas mais parecendo diálogo de bêbado em boteco cheio, onde ninguém se entende direito. As forças negativas e sem substância estão por aí a bagunçar o coreto.
Tenho cá pra mim, sem ser especialista no assunto, embora sempre caindo nessa armadilha da mente, de que cada um de nós constrói um arquétipo de procedimento social que inevitavelmente nos leva à polêmica, por ela ser atrativa para o conhecimento filosófico e poético.
É uma espécie de fio lógico do pensamento e que é o condutor dos nossos atos, textos, palavras, ações e sentimentos.
Caso algo saia daquele padrão ‘confortável’, diria... Do perímetro demarcado, ou então se confronta a ele, gera uma espécie de insustentabilidade no sistema interior. Ou seja, você envereda por caminhos estranhos que o colocam fora do eixo de sua sustentação. Há que ter coragem para admitir a sua ignorância diante da outra face que lhe é apresentada e que confronta com a “sua verdade”.
Então aí é necessário ter sempre o ‘foco’ em que seus devaneios desembocaram e evitar interpretações precipitadas de juízo, análises verbalizadas, comentários que o levem para fora do seu foco de interesse e objetivo, mas tentar agregar aquela visão complementar que lhe chegou como dádiva de outra mente mais privilegiada pelo sentimento ou conhecimento.
Explicando melhor: Não deixe que questões pessoais, intrínsecas e estranhas ao seu habitat poético filosófico, interfiram na sua produção e nos seus relacionamentos afetivos. Seu propósito primeiro e indissolúvel deve ser para com a poesia e o imaginário que é a sua vestimenta do dia a dia.
Sei que é difícil superar as coisas, mas isso é uma lição, um processo constante de aprendizagem e mesmo de troca de experiências que nos leva a compreender o fenômeno, mas não nos livra de que venhamos a vivenciá-lo outras vezes.
Cada ser humano carrega uma carga pesada da sua memória existencial nem sempre plena de realizações, quiçá com percentual de conteúdo exagerado de frustrações que é fruto da própria natureza comodista de não cultuar muito a virtude, a boa luta do bom combate das ideias necessárias a formação de um caráter probo e correto.
Não podemos andar por aí obcecados de ter razão em tudo, ser os donos da verdade que nos leva a inevitável possessividade em que esperamos inconscientemente do outro uma atenção maior do que nos é ofertada.
É daí a tal geração do ciúme, da inveja, dos equívocos, das dores que vão tomando lugar no consciente e nem percebemos o mal que nos faz como alojar um carrapato sugando o nosso próprio sangue.
Só conheço as boas leituras, a reflexão, a prece e o sentimento generoso do amor como os melhores remédios para perdoar a si próprios e ao outro por essa limitação que coexiste em cada um de nós, queiramos ou não, levados muitas vezes por fragmentos de informações e em decorrência a conclusões precipitadas. Mas não esqueça nunca que quando um caminho termina outro logo começa.
Hildebrando Menezes