Versos a um cão
Admiro o cão abandonado
deitado na calçada poeirenta.
Seus olhos baços e vazios
fitam a tarde cair lenta.
Caminha invisível sem destino,
procura em latas a sobrevivência.
E só reclama em latido, desatino
para a Lua desatenta.
Invejo o desdém desse animal
e como nada o abala.
Sem sentimentos, nem bem nem mal.
E a impossibilidade da fala.
Invejo, sobretudo, a despreocupação.
Pois um cão não sabe odiar.
Um cão só sabe ser um cão...